O uso da água pluvial por empresas e consumidores será normalizado pela ABNT. Especialistas reúnem-se hoje para finalizar o texto das novas regras.

Técnicos e professores vão se reunir, hoje, para finalizar o texto-base de uma norma pela qual a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) regulará a utilização de água da chuva no País. Após a redação, a ser feita na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), o documento será submetido a audiências públicas por cerca de dois meses, e as regras deverão começar a valer ainda em 2007.

O líder do grupo – composto por 15 a 20 professores, técnicos, especialistas e pela Sabesp – é o coordenador da Comissão Especial de Meio Ambiente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea), engenheiro civil Plínio Tomaz. Ele já foi professor da Poli/USP e esteve à frente da criação da norma que regula o funcionamento de filtros e purificadores domésticos de água em 2001.

A intenção, com a norma, é orientar empresas de construção e consumidores sobre as formas adequadas de coletar e tratar a água da chuva. Isso elevaria a eficácia de projetos com essa finalidade.

“Com a crise no abastecimento, a água de chuva passa a ser atrativa”, comentou, a respeito do nível de abastecimento inferior ao ideal em regiões metropolitanas, como a de São Paulo e a da Baixada Santista, de acordo com o que foi publicado na edição de ontem de A Tribuna (menos de 20% do necessário por habitante, ao ano, é produzido na Região Metropolitana de São Paulo).

Esse tipo de aproveitamento, contudo, é menos prático e potencialmente menor que o propiciado por sistemas de reuso de água. Calcula-se que seria necessária a construção de grandes reservatórios para o acúmulo de líquido. E o armazenamento não basta: deve-se, a exemplo do que se faz com o esgoto, tratar a água da chuva.

Tomaz explicou que, quanto mais tempo passa sem chover, as primeiras precipitações são mais ácidas e trazem coliformes fecais e poluentes oriundos, por exemplo, da queima de combustíveis. Outra razão para o descarte das primeiras chuvas é que os reservatórios também acumulam detritos, como papel, poeira e pássaros mortos. “O pessoal tem feito muita coisa errada”.

Experiências
Plínio Tomaz disse que, no Interior de São Paulo, foram desenvolvidos dois projetos para o aproveitamento da água da chuva em indústrias. E, na própria USP, um protótipo para captação dessa água reduziu em 40% o consumo de água tratada, na universidade. “Aproveitaram água de chuva sem precisar, mais por uma questão ambiental”.

Iniciativas semelhantes se expandiriam mais depressa, acha o especialista, se recebessem incentivos do Poder Público e fossem abarcadas por companhias de saneamento básico, como a Sabesp.

“Mas, hoje, tem que se aproveitar a água e ficar quietinho. A Sabesp quer cobrar essa água junto com o esgoto, e tem direito. Em vez de incentivar, nós punimos”, criticou, ao discorrer que, em países como Alemanha e Estados Unidos, o consumidor paga menos à medida que aproveita água não-tratada. “As campanhas de economia são de fachada”.

Edifício no Embaré será pioneiro no aproveitamento
Com previsão de entrega para daqui a um ano, o Edifício Ilha de Creta, na Rua Conselheiro Ribas, no Embaré, será o primeiro residencial novo a dispor de um sistema próprio para aproveitamento da água da chuva. Caro? Não. Segundo o proprietário da Engeplus Construtora e Incorporadora, Roberto Luiz Barroso Filho, os R$30 mil a R$40 mil estimados na execução do sistema de tratamento correspondem a menos de 0,3% do custo total da obra.

Segundo Barroso, a água pluvial será captada do mezanino, da cobertura e do telhado e enviada a uma espécie de caixa, na qual passará por ozonização (aplicação de ozônio, para que seja purificada) e decantação. A partir dela, haverá a distribuição aos 114 apartamentos, ao imóvel da zeladoria e ao sistema de abastecimento, a fim de ser usada em descargas sanitárias, limpeza de ambientes e para regar plantas.

O investimento será facilmente recuperado, calcula o empresário. As contas de água do prédio deverão ser reduzidas em R$ 4 mil a R$ 5 mil mensais, praticamente a metade do que custariam sem um sistema de aproveitamento. “Isso representaria em torno de R$40,00 a menos no valor do condomínio”. À parte disso, cada apartamento terá hidrômetros individuais, para que cada família controle seu consumo.

Dúvidas
O proprietário da RC Assessoria e Projetos Ltda. – responsável pelo projeto do Ilha de Creta -, Ricardo Ramos Cardoso, não recomenda que a água da chuva tratada no prédio seja consumida. “Não é nosso objetivo que se torne potável porque demandaria espaços (adicionais para as instalações) e acompanhamento técnico”. E, se possível, sugere que se limite seu uso para descargas em vasos sanitários, pois “alguém pode vir a beber” a água para limpeza.

Pedro Mancuso, professor da Faculdade de Saúde pública da USP, não vê problema em que, com o devido tratamento, a água da chuva se torne potável. “A água é a mesma desde que o mundo é mundo. Não fica velha. O reaproveitamento é indefinido”.

Ricardo Cardoso também disse ter projetado um sistema de reaproveitamento no prédio onde está instalada a unidade de Negócios da Bacia de Santos, da Petrobras, na Avenida Conselheiro Nébias, 159, na Vila Nova. O equipamento destina água para descargas há cerca de dois anos.
Ele orienta, contudo, que instalações para captação e distribuição da água da chuva sejam montadas em construções ainda não concluídas. “Em prédios antigos, são economicamente inviáveis. Seria preciso separar caixas d’água e tubulações. Mas, se os condôminos acham que vale a pena, não é impossível”.

CDHU não adota sistema, mas expande medição individual
A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), subordinada à Secretaria Estadual de Habitação, não planeja adotar meios de aproveitamento de água da chuva ou promover o reuso do que é consumido em moradias populares. Por ora, uma medida de economia será expandir a utilização de hidrômetros (medidores de consumo) individuais nos apartamentos dos futuros conjuntos, a exemplo de projeto-piloto desenvolvido no Conjunto Habitacional Mário Covas, no Saboó.

O coordenador do Comitê de Qualidade de CDHU, Raphael Pilezzi, alegou não haver viabilidade econômica na adoção de sistemas de coleta de água pluvial nesses edifícios. “Fazemos casas para pessoas que ganham de um a cinco salários mínimos. Não posso aumentar muito o custo do prédio, senão, o mutuário não pode pagar (as prestações). E o reaproveitamento (de água) deveria ser uma política geral, para ter resultado”.

Ainda assim, segundo Pilezzi, a medição individual do consumo já tem proporcionado economia de água, calculada por ele em, aproximadamente, 30% do total que seria gasto nos edifícios se cada morador não tivesse de pagar com exatidão pelo que consome.

O que ainda não existe, contudo, é a cobrança individual da taxa de esgoto. Todos os moradores pagam juntos, o valor correspondente ao consumo de água do prédio inteiro.

Consumo e economia da água
Três quartos da superfície do planeta são cobertos por água – 97% salgada e 3% doce. Entretanto, os rios e lagos, principais fontes de abastecimento, correspondem a 0,01% dos recursos hídricos da Terra. A maior parte da água doce existente está na forma de gelo, em calotas polares e geladeiras.

Há 2 mil anos, a população mundial correspondia a 3% da atual. O volume de água permanece idêntico.

O consumo de água triplicou, no mundo, a partir de 1950. Por habitante, aumentou cerca de 50%.

De acordo com dados de 1993 da Organização das Nações Unidas (ONU), mil litros de água utilizados pelo homem resultam em 10 mil litros de água poluída.

O gotejamento de uma torneira representa um desperdício diário de 46 litros de água. Em um mês, 1.380 litros, mais de um metro cúbico (mil litros).

Um buraco de dois milímetros no encanamento pode significar desperdício de 3.200 litros por dia. (Fonte: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – Cetesb)

(Fonte: Veiculado no Jornal A Tribuna de Santos, em 13/12/2006)

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