O segredo das algas

Um processo capaz de gerar 300 vezes mais biodiesel do que qualquer planta conhecida, que dispensa o uso de água potável ou agrotóxicos, podendo ainda tratar o esgoto doméstico e consumir parte da poluição gerada em fábricas é uma das mais novas e promissoras apostas na área da bioenergia.

O método, cercado de segredos, vem sendo testado em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Israel, Austrália, Argentina e Brasil, com apoio de empresas do porte da Shell, Repsol, Chevron e Petrobras, além de agências governamentais como o Pentágono (EUA).

Ele consiste no uso de microalgas, uma das mais abundantes e antigas formas de vida existentes na Terra.

Mais em menos área
Inseridas em equipamentos chamados fotobioreatores, estima-se que elas possam produzir de 200 a 300 vezes mais óleo vegetal do que a maioria das oleaginosas (mamona, dendê, girassol, soja, etc) usadas hoje para se obter o biodiesel.

Enquanto a soja, por exemplo, necessita de uma área de 500 mil hectares (625 mil campos de futebol) para gerar 250 mil toneladas de biodiesel, as algas fazem o mesmo serviço em 2.500 hectares (3.125 campos de futebol).

“A produção é absurdamente superior às oleaginosas”, afirma Roberto Bianchini Derner, coordenador do projeto “Biodiesel a partir de microalgas”, uma parceria entre a Petrobras e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio Grande (UFRG).

Corrida mundial
Mas os benefícios não se resumem à alta produtividade observada em condições de laboratório. Segundo Roberto, as microalgas não precisam de água potável para se desenvolver. “Atualmente, as algas são usadas em mais de quatro mil sistemas de tratamento de esgotos, dos quais retiram seus nitrientes”.

Além da água, elas também não precisam de terra, o que afasta o fantasma que paira hoje sobre o biodiesel tradicional, cujas plantações avançam sobre o cultivo de alimentos, provocando, inclusive, desmatamentos em áreas de preservação.

Como não há plantio tradicional, as algas também dispensam aplicações de pesticidas e fertilizantes químicos, consomem grande quantidade de recursos naturais e energia para serem fabricados.

“Hoje, o mundo inteiro corre para aperfeiçoar a tecnologia e tornar o processo competitivo economicamente. Até o momento, porém, o trabalho se resume aos laboratórios”, explica Roberto, avaliando em 10 anos o tempo necessário para que a produção possa ser iniciada em larga escala – uma estimativa que alguns empresários parecem dispostos a desafiar.

Os prós e os contras
Desvantagens do biodiesel de oleaginosas:
Monocultura afeta a biodiversidade;
Adubos e pesticidas degradam o meio ambiente;
Utiliza grandes extensões de terra, competindo com a plantação de alimentos;
Gera desmatamentos;
Alto consumo de energia e água na produção;
Queimadas poluentes, como no caso da cana;
Safra é anual.

Vantagens do biodiesel de algas:

Gasta pouca água;
Não usa adubos químicos. Planta pode ser alimentada com esgoto;
Dispensa uso de solo, não havendo competição com outras culturas;
Não há desmatamentos;
Produz mais que qualquer oleaginosa e em menor espaço;
Absorve até 20 vezes mais gás carbônico que as demais culturas;
Colheita pode ser diária.

Entrevista
Roberto Bianchini Derner, coordenador do projeto ‘Biodiesel a partir das microalgas’.

“Das algas, tudo se aproveita”
Qual a idéia do projeto com a Petrobras?
O que buscamos é um processo integrado, que além do biocombustível, também possa agregar outros benefícios.

Tais como?
O sistema pode ser acoplado a uma indústria, por exemplo. Dessa forma, usaríamos a poluição por ela gerada, no caso o gás carbônico (CO2), para alimentar as algas (na natureza, por meio da fotossíntese, as algas captam CO2 e o transformam em oxigênio).

O mesmo pode ser feito com os esgotos?
Sim. Nesse caso, os nutrientes viriam desses dejetos. Nos dois casos, estaríamos reaproveitando poluentes para alimentar  as algas que por sua vez gerariam o biocombustível.

Esse é um dos grandes diferenciais em relação às oleaginosas como soja, dendê e mamona?
Há várias vantagens. Enquanto da alga tudo se aproveita, da soja ou qualquer outra planta similar, só se utilizam as sementes para extração do óleo. Todo o resto, raiz, caule e folha não interessam.

As usinas de microalgas podem ser feitas no mar?
Algas necessitam de sol para o processo de fotossíntese. Dependendo da profundidade, diminui-se a chegada de luz e, dessa forma, o rendimento será menor do que um bioreator.

Como o senhor encara as notícias dando conta que empresas, inclusive no Brasil, já se preparam para produzir biodiesel de algas?
Acho que esses anúncios significam que há interesse, mas não haja produção efetiva. No nosso caso, não passa uma semana sem que empresas nos procurem para ter acesso à tecnologia.

Empresa anuncia biousina no Interior
Diversas empresas no mundo, inclusive no Brasil, já anunciam o início da produção de biodiesel de algas.

É o caso, por exemplo, da Biopetro. Segundo o diretor da empresa, Giovanni Erme, uma ‘usina’ de algas começa a ser construída até o final deste mês em Araraquara, com investimentos iniciais de R$6 milhões. Dentro de três anos, Erme acredita ser possível gerar 200 milhões de litros por ano.

A expectativa é compartilhada pela Oil Fox, da Argentina. “Seremos os primeiros a produzir biodiesel de algas”, afirma Jorge Kaloustain, presidente da empresa, que até o final deste ano espera comercializar o produto por meio de usinas instaladas em Comodoro Rivadavia, a 1.800 quilômetros de Buenos Aires.

Portugal
Na Espanha, o empresário Bernard Stroiazzo – Mougin segue a mesma previsão. Sua empresa, a Biofuel Systems, está se instalando na costa mediterrânea, com apoio da Universidade de Alicante.

Já em Portugal, 80 milhões de euros estão sendo investidos em uma unidade na região Algarve. Declarada pelo governo como uma obra de interesse nacional, ela entrará em operação no início de 2009. Segundo Pedro Sampaio Nunes, um dos empresários envolvidos, o biodiesel de alga vai ‘revolucionar’ o mercado.

Os Estados Unidos, por sua vez, retomaram as pesquisas, suspensas há uma década. Lá, além de empresas como a Chevron  e a General eletric, o trabalho tem apoio do Ministério da Defesa, via Pentágono.

Cautela
A Shell é outra multinacional que em dezembro passado anunciou a sua entrada no negócio. Em parceria com a norte-americana HR Biopetroleum, está construindo uma usina-piloto no Havaí.

Essas e outras iniciativas, porém, são encaradas com certa cautela pelo professor Roberto Bianchini Derner. Para ele, boa parte desses anúncios pode não passar de balões de ensaios, destinados a atrair possíveis investidores.

Quando soube do anúncio feito pela empresa argentina Oil Fox, o pesquisador brasileiro entrou em contato para saber como seria feita a produção. “Não obtive qualquer resposta”, afirma.

(Fonte: Veiculado no Jornal A Tribuna de Santos, em 21/01/2008)

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