Abastecimento - Demanda por água coloca Baixada em situação preocupante.

Uma conta simples mostra onde mora o problema de disponibilidade de água na Baixada Santista. Segundo o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), a diferença entre demanda e disponibilidade supera os 55%, quadro que os especialistas classificam como preocupante.

Atualmente, de acordo com dados do Plano Estadual de Recursos Hídricos, a disponibilidade de água para fins urbanos e industriais na região é de 36 metros cúbicos por segundo (36 mil litros/s). Já a demanda gira em torno de 20 metros cúbicos por segundo -- 9,18 para uso doméstico e 11,7 para indústrias.

"A situação é crítica. Trabalhamos muito perto do limite da capacidade das bacias", alerta Angela Maria Frigerio, especialista em Geociências pela Unicamp e professora de Geografia da UniSantos.

Desperdício
Conforme a especialista, a questão é bastante complexa, pois há diversos fatores que atuam na gestão dos recursos hídricos. As principais pressões estão no setor industrial, o maior consumidor, além do impacto do porto com seus efluentes e do elevado índice de urbanização da área.

Como educadora, ela aposta na mudança de hábitos da população por meio de campanhas de conscientização. "Temos que diminuir o desperdício a qualquer custo", afirma.

Para José Luiz Gava, membro do Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista (CBHBS) e do DAEE, o nível é de atenção.

"Não há como ampliar a oferta de água", afirma Gava, apontando que a saída para o problema está no uso racional do recurso, tanto pela população como pelas indústrias, por meio de investimentos em reuso e reaproveitamento de água.

Segundo ele, todos os esforços feitos pela população, indústrias e Governo do Estado são bem-vindos. Mas a solução, de acordo com Gava, está na conscientização. "Chegamos a um ponto que não dá mais para desperdiçar água", avalia.

Séries hidrológicas
Diante de um consumo crescente e da dificuldade de se ampliar a oferta ou buscar novos pontos de coleta, a engenheira Alexandra Sampaio, do Instituto Ecomanage, da Universidade Santa Cecília (UniSanta), enfatiza a importância dos estudos científicos.

"Temos um déficit hídrico na região e precisamos conhecer com mais precisão as séries hidrológicas". 

As séries, segundo a pesquisadora, mostram o comportamento dos rios em relação à vazão, capacidade de recarga e períodos de seca e estiagem. Com base nesses estudos, podem ser traçadas ações de contenção nas fases mais críticas.

Na Baixada, o período de estiagem não coincide com a temporada de verão, época em que a região pula dos seus cerca de 1,5 milhão de habitantes para picos com até 5 milhões de pessoas. Mesmo assim, a principal temporada de férias costuma registrar falta do líquido, notadamente nas áreas mais periféricas.

A qualidade
A água que chega às residências passa por Estações de Tratamento, instaladas nos pontos de captação pela Sabesp para garantir a potabilidade do líquido. Em casos de rios predominantemente urbanos, como o Jurubatuba, o trabalho é maior, segundo Angela Frigerio, em função da poluição a que é submetido. Já Alexandra Sampaio aponta as condições do Rio Moji como preocupante, por receber uma carga intensa de efluentes das indústrias. Mas, na visão de Alexandra, a poluição difusa (lixo não-orgânico) é que mais contribui, pois algumas empresas ainda descartam efluentes sem tratamento prévio, descumprindo a legislação e poluindo os rios. O Rio Cubatão é uma das principais fontes de captação para uso doméstico e, segundo Alexandra, possui uma quantidade excessiva de coliformes fecais e outros poluentes, exigindo tratamento rigoroso. A quantidade de lixo descartado nas encostas e o seu impacto nos rios também preocupa. "A poluição por resíduos sólidos deve ser controlada com programas continuados de educação ambiental", salienta a pesquisadora.

De onde vem a água
A Baixada Santista conta com um sistema integrado de atendimento de água que contempla Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão, Praia Grande, Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe.

A captação é feita em vários pontos, como Rio Cubatão, Pilões, Jurubatuba, Jurubatuba Mirim, Moji, Quilombo e Melvi, entre outros. Há também captação da Bacia do Alto Tietê.

Grande parte dos rios que nos abastece nasce na Serra do Mar. Para Angela Frigerio, isso é uma vantagem, uma vez que o trajeto da água é permeado por áreas verdes.

Opções
Como lembra a especialista, 60% da Baixada Santista é coberta por vegetação e a preservação da Mata Atlântica é fundamental para evitar erosões e manter a qualidade das nascentes.

Como opção às águas superficiais (rios), hoje principal fonte de abastecimento da região, Angela acredita ser viável contar com as águas subterrâneas no futuro.

Esse tipo de recurso, mesmo sujeito à chamada intrusão salina, devido à proximidade do lençol freático com o mar, que torna a água imprópria para consumo, ainda permitiria o seu uso para fins não-potáveis, tais como lavagem da frota pública de veículos, das feiras livres e áreas comuns de escolas e hospitais, por exemplo.

Para isso, entretanto, a engenheira Alexandra Sampaio afirma que é preciso investimentos em pesquisas, visando identificar o real potencial desses aquíferos.

Demanda
Mas se o aproveitamento dos recursos subterrâneos ainda é pouco utilizado na região, o desperdício, segundo Angela Frigerio, ainda é um fator preponderante que merece maior atenção dos Poderes Públicos, principalmente junto aos consumidores domésticos.

Nas indústrias, diz Angela, já se adotam procedimentos mais rigorosos, por meio do reuso e do reaproveitamento da água utilizada no processo de produção. Algumas empresas da região, como no pólo de Cubatão, já conseguem taxas de reutilização acima de 90%.

Algumas dessas tecnologias, porém, já estão ao alcance da sociedade. Nas residências, além da captação de água de chuva, é possível adotar, por exemplo, bacias sanitárias com descarga de três litros e aeradores para torneiras e chuveiros, que reduzem a vazão do líquido.

Atualmente, a demanda por água na Baixada Santista é considerada exagerada se comparada ao ideal apontado por organismos internacionais.

A orientação da Organização das Nações Unidas (ONU) é que o consumo médio diário por habitante esteja entre110 e 120 litros-dia por pessoa. Os números da Sabesp, entretanto, revelam que a média de consumo é de 180 a 200 litros por habitante-dia.

Meta
Segundo a Sabesp, Santos é o município da Baixada Santista onde há o maior consumo per capita de água pela população. Na média, são cerca de 180 litros a cada dia por pessoa. Em São José dos Campos, por exemplo, com 590 mil habitantes, essa média é de 166 litros-dia. Porém, para a ONU, a média considerada ideal seria da ordem de 120 litros por dia para cada ser humano - tudo que excede esse ponto passa a ser desperdício. Considerando que Santos tenha exatos 420 mil moradores, os 180 litros-dia se transformam em 75,6 milhões de litros a cada 24 horas. No mês, a conta vai para 2,2 bilhões de litros de água. Ao final de 12 meses teremos 27 bilhões de litros consumidos. Isso sem levar em consideração a temporada de férias de verão. Esse dilúvio pelos canos da cidade tem o seu preço. São quase R$ 28 milhões ao ano. Mas, caso cada santista limitasse o seu consumo aos 120 litros-dia preconizados pela ONU, haveria uma economia de mais de R$ 9 milhões ao ano. E isso não é difícil. Segundo a Sabesp, apenas ao escovar os dentes com a torneira fechada economiza-se mais de 60 litros.

(Fonte: Veiculado no Jornal A Tribuna de Santos, em 17/03/2008)

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