Quem vai ao restaurante de Valdir Aparecido Espurio, na Encruzilhada, nem suspeita que ali esteja em funcionamento um sistema inédito na região. 

Ele, ao lado de outros 200 estabelecimentos pela Cidade, faz parte do Projeto de Olho no Óleo, criado pelo empresário santista Mário Hoyama Júnior.

Dono de uma empresa de gerenciamento de resíduos, Hoyama percebeu que a reciclagem do óleo de frituras era mais do que um bom negócio.

R$ 0,30 por litro
Desde outubro, ele recolhe esse poluente em domicílio, paga R$ 0,30 por litro, e transforma parte da renda obtida em uma inédita campanha de conscientização ambiental.

Para isso, ele criou um gibi de distribuição gratuita e uma peça de teatro itinerante, que já foi encenada em 25 escolas da Cidade. Nas unidades municipais, o projeto é feito em parceria com a Prefeitura.

O objetivo é incentivar a reciclagem desse poluente resíduo. Estima-se que uma Cidade como Santos, com pouco mais de 400 mil habitantes, gere, a cada ano, de 500 mil a 600 mil litros de óleo de frituras — a maior parte descartada de forma incorreta, seja nos ralos ou vasos sanitários.

Essa gordura vegetal, por sua características físico-químicas, forma uma fina película sobre a água, dificultando a passagem do oxigênio, asfixiando a fauna, além de comprometer a qualidade dos mananciais de água potável.

Bicicleta e Ipod
Atualmente, a empresa recolhe cerca de 7 mil litros do produto ao mês, tendo como meta ultrapassar 10 mil litros nos próximos meses. Os principais fornecedores são bares, restaurantes e lanchonetes, para os quais o empresário criou o selo chr39Amigos do Meio Ambientechr39.

"A idéia é que cada participante do programa possa afixar o selo em seu estabelecimento. Dessa forma, a população pode saber quem dá destino correto ao óleo e prestigiar esses locais", explica.

Para custear o projeto, Hoyama revende o óleo para uma empresa do Interior do Estado, que transforma o resíduo em biodiesel (veja reportagem abaixo). Parte do lucro é usada para confeccionar os selos, os gibis e brindes a serem distribuídos nas unidades de ensino.

"A idéia é premiar a escola que mais recolher óleo com o sorteio de uma bicicleta ou um Ipod entre os alunos. Também estamos discutindo com a Prefeitura uma forma de premiar os professores, que são peça fundamental nesse processo de conscientização ambiental".

Quem quiser conhecer mais detalhes sobre o sistema de recolhimento de óleo em domicílio, pode acessar o site da empresa: www.marimresiduos.com.br.

Motivação ambiental move participantes
No restaurante A Pantaneira, na Encruzilhada, o dono Valdir Aparecido Espurio recicla o óleo de suas fritadeiras há mais de 10 anos.

"Quando comecei a reaproveitar o óleo, ninguém falava sobre isso. Muitos até se espantavam, achavam estranho. Aqui, nenhum funcionário joga óleo pelo ralo", explica, afirmando que nunca fez isso pelo lucro, que considera a parte menos importante do processo.

"Faço isso por consciência ambiental. Na verdade, só comecei a revender o resíduo há poucos meses", afirma.

Até então, Valdir explica que repassava os cerca de 200 litros mensais de óleo pós-uso para uma empresa de São Caetano do Sul.

"Nunca recebi nada por isso, a não ser o fato de ter a consciência tranquila de que esse lixo não ia contaminar a natureza". 

Em São Caetano, a empresa transforma o óleo em sabão. "A proposta de transformar em biodiesel é melhor, mais interessante para o País", diz Valdir.

Segundo Mário Hoyama Júnior, os restaurantes e lanchonetes são hoje os principais fornecedores de óleo pós-uso, fazendo das segundas-feiras o dia de maior movimento. Já os condomínios, comparativamente, têm baixa adesão.

Um dos que decidiram aderir ao serviço é o Condomínio Edifício Meridian, no Gonzaga. De acordo com o síndico, o despachante aduaneiro Luiz Otero, a idéia de aderir ao serviço também não teve motivação financeira.

"Aqui a quantidade de óleo é pequena. Discutimos a situação durante uma reunião condominial e optamos pela revenda por uma questão de preservação ambiental", relata.

Resíduo de frituras sustenta mercado
Todo o óleo de fritura pós-uso obtido pelo empresário Mário Hoyama Júnior na Baixada Santista é revendido para uma empresa no Interior do Estado, onde é purificado e transformado em biodiesel.

De cada litro do resíduo, cerca de 95% viram biocombustível, segundo Leandro Ponchio, responsável pela refinaria. O restante é composto por chr39sujeirachr39 impregnada no óleo, como restos de alimentos ou farinha.

O biodiesel é revendido, principalmente, para frotistas e transportadoras. Em geral, ele é misturado ao diesel de petróleo.

"Aqui, porém, meus caminhões rodam desde janeiro apenas com biodiesel 100% oriundo de óleo de fritura, sem nenhum problema", afirma Leandro.

Segundo os especialistas, um motor movido unicamente à biodiesel consome, em média, 10% a mais do que o abastecido com diesel mineral. Porém, segundo Leandro, na prática isso não ocorre.

"O diesel de petróleo à venda no Brasil não é de boa qualidade. Por isso, quando comparado com o diesel vegetal, o desempenho em termos de consumo se equipara".

Feitas as contas, o biodiesel de óleo de fritura custa, no final do processo de refino, cerca de R$ 1,70 o litro, podendo chegar a R$ 2,20 na bomba, graças aos impostos — contra R$ 1,90 o litro do diesel mineral, em média.

"Ele ainda é mais caro que o tradicional. Mas, se não fosse o reaproveitamento do óleo de cozinha, o preço seria ainda maior, talvez até inviável. Hoje, o resíduo de fritura é fundamental para o processo de produção do biodiesel", afirma Leandro.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), cerca de 20 usinas já transformam óleo de cozinha usado em biodiesel no interior de São Paulo. Pelo menos outras 20 unidades estão à espera de certificação do órgão. Nenhuma delas na Baixada Santista.

Estudos feitos pelo pesquisador da Unicamp, Antonio José da Silva Maciel, revelam que se o óleo de frituras gerado em cidades como Santos fosse transformado em biodiesel, seria suficiente para abastecer boa parte da frota pública da Cidade, sem falar no benefício ambiental.

Você sabia?
O processo de produção de biodiesel a partir de plantas foi uma invenção brasileira. Tudo começou em meados da década de 1970, quando o pesquisador cearense Expedito Parente criou o método chamado de transesterificação - ainda hoje o sistema mais usado no mundo. Na época, o Governo não deu atenção. A patente perdeu sua validade em 1991. No mesmo ano, a Alemanha começou a produzir o biocombustível a partir da colza, utilizando a técnica criada no Brasil. Hoje, o professor Expedito é consultor da Nasa e da Boeing, para quem desenvolve um biodiesel de aviação - por ele criado em 1985, mas nunca usado no País.

Indaiatuba é exemplo
Localizada na região metropolitana de Campinas, Indaiatuba é considerada pelo Governo Federal como modelo para a implantação de usinas de biodiesel a partir de óleo de fritura no País. Lá, uma ampla companha envolvendo o comércio e as escolas (foto) permitiu que uma usina experimental, criada na Unicamp, produzisse mais de 60 mil litros de biocombustível desde 2005 - usado até em retroescavadeiras. Agora em abril, a cidade ganhará uma unidade definitiva, capaz de processar até 100 mil litros- dia de óleo de cozinha. Em média, cada pessoa consome oito litros de óleo comestível (a maior parte de soja) ao ano no Brasil. Uma parte vai para tempero e se perde nos alimentos. A outra é empregada nas frituras, cujo resíduo representa quase dois litros de óleo ao ano por pessoa.  Em Indaiatuba, antes de virar biodiesel, o óleo recolhido nos restaurantes é analisado em laboratório. "Isso possibilita controlar a qualidade da refeição e orientar sobre a forma correta de uso desse tipo de gordura", afirma o pesquisador da Unicamp, Antonio José da Silva Maciel.

(Fonte: Veiculado no Jornal Folha de São Paulo, em 31/03/2008)

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