Desde pequeno, ainda na fase da pré-escola, Matheus era um garoto aplicado nas lições de casa. Contudo, na sala de aula, apresentava dificuldades de aprendizagem. ‘‘Eu falava: comigo ele aprende e como na escola ele não aprende?’’, conta a mãe, Maria Cecília do Amaral Marques. Há cerca de três semanas, após meses consultando vários profissionais da saúde, a mãe do menino, agora com 8 anos, teve o diagnóstico: dislexia.

Definida como transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração, a dislexia, de acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), é o distúrbio com maior incidência nas salas de aula. Conforme a entidade, pesquisas realizadas em vários países mostram que entre 5% e 17% da população mundial é disléxica.

‘‘A dislexia é uma das muitas dificuldades de aprendizagem de origem constitucional e hereditária’’, explica a coordenadora científica da ABD, Maria Ângela Nogueira Nico, que também é fonoaudióloga e psicopedagoga.

Segundo Maria Ângela, a dificuldade se torna evidente na época da alfabetização, embora alguns sintomas estejam presentes e já evidentes na pré-escola.

‘‘A maior dificuldade do disléxico está na área fonoaudiólogica — dificuldade em fazer relação fonema-grafema, isto é, som e fala —, acarretando dificuldade para aprender a ler, escrever, soletrar, aprender uma segunda língua e, às vezes, até com a matemática’’, explica a psicopedagoga.

Para se chegar ao diagnóstico de dislexia, a avaliação deve sempre ser realizada por uma equipe multidisciplinar especializada, que compreende neurologista, oftalmologista, pediatra, fonoaudiólogo, psicólogo e psicopedagogo.

‘‘Quanto antes for realizado o diagnóstico, menores são as chances de que se instale um quadro emocional’’, alerta Maria Ângela. ‘‘Os adultos e adolescentes que vêm para serem avaliados já apresentam problemas emocionais como consequência das dificuldades’’.

AUTO-ESTIMA
O tratamento, segundo a psicopedagoga da ABD, deve ser feito por uma fonoaudióloga ou psicóloga. ‘‘Se a auto-estima estiver muito rebaixada, uma psicóloga ajudará’’.

Maria Cecília, mãe de Matheus, levou o menino ao fonoaudiólogo quando ele tinha 5 anos. O tratamento durou quase dois anos. ‘‘Quando ele estava com 7 anos, a diretora da escola onde ele estuda falou que era para eu levá-lo novamente ao fono’’, lembra Maria Cecília. ‘‘Fiquei preocupada porque ele não sabia ler e escrever’’.

Foi graças à mãe de um aluno da classe de Matheus que Maria Cecília conseguiu saber o que o filho tinha. ‘‘Ela ouviu a professora conversando com meu marido, em uma reunião, e me ligou. Disse para mim ‘‘vê se o seu filho não tem dislexia’’. Na mesma hora, entrei na Internet e comecei a pesquisar sobre o assunto’’. Após levar o filho ao neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo, o diagnóstico foi fechado.

Atendimento
Na rede pública municipal de ensino, de acordo com a Secretaria de Educação (Seduc), há cerca de 20 crianças portadoras de dislexia matriculadas. Para atênde-las, a Seduc conta com aproximadamente 80 professores especializados

Nuances
‘‘A dislexia tem várias nuances. Cada criança é atendida na sua dificuldade específica’’, explica a chefe da Seção de Atendimento às Necessidades Especiais (Seane) da Seduc, Arimar Martins Campos. As crianças estudam nas classes regulares e, quando necessário, são atendidas pelos profissionais especializados no contra-turno. ‘‘Se precisar, fazemos provas orais ou por computador. Elas se saem muito bem’’

Concursos
Um projeto de resolução da deputada Maria Lúcia Prandi, apresentado em dezembro passado, determina a adequação das provas de concursos públicos para pessoas com dilexia, como avaliações orais e maior tempo para a realização dos exames, além da presença de uma pessoa para ler os textos dos enunciados.

Médicos podem ajudar
No consultório do oftalmologista Leonardo Verri Paulino, frequentemente pais levam os filhos com queixas de dificuldade de visão. Entre as reclamações, as crianças dizem que as palavras ‘‘pulam’’ quando escrevem e os pais relatam que a escrita dos filhos é confusa e que eles não têm interesse pelo aprendizado. Embora esses sintomas, sozinhos, não sejam suficientes para diagnosticar a dislexia, o profissional deve ficar atento.

Conforme Paulino, o problema, que é de base neurológica, deve ser cogitado quando, no exame clínico, o profissional não constata problemas de visão na criança. ‘‘O disléxico não consegue passar o olho pelo texto. Eles dizem que as palavras dançam ou somem e a visão fica embaçada’’. Além do acompanhamento com o profissional indicado, existem lentes que auxiliam a criança a ler, já que a ajudam fixar a visão.

PREJUÍZOS
Apesar de prejudicar, principalmente, a linguagem, a dislexia acarreta problemas em outras áreas. O principal obstáculo é fazer a relação entre os sons e sua representação visual, por meio das letras. É por isso que as crianças que têm dislexia enfrentam dificuldades de alfabetização.

Entretanto, como afirmam especialistas, é comum que o distúrbio venha acompanhado de uma inteligência acima da média. Na lista de figuras famosas que têm dislexia estão a escritora Agatha Christie, o ator Tom Cruise e o autor da Teoria da Evolução, o cientista Charles Darwin.

Sinais de alerta
Fase pré-escolar

Troca de letras na fala (ex.: ch por j, t por d)
Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem
Dificuldade com quebra-cabeças
Falta de interesse por livros impressos

Fase escolar
Dificuldade na aquisição e automação da leitura e escrita
Dificuldade em copiar de livros e da lousa
Desorganização geral (ex.: constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares)
Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas
Confusão entre esquerda e direita
Dificuldade na memória de curto prazo, como instruções e recados
Dificuldade na matemática e desenho geométrico
Troca de letras na escrita
Bom desempenho em provas orais

Fase adulta
Memória imediata prejudicada
Dificuldade em nomear objetos e pessoas
Dificuldade de organização
Constante dificuldade na leitura e escrita
Fonte: Associação Brasileira de Dislexia (ABD)

(Fonte: Veiculado no Jornal A Tribuna de Santos, em 11/05/2008)

Assessoria de Imprensa do Sicon
Av. Conselheiro Nébias, 472 - Encruzilhada - Santos - SP
Fone/Fax: (13) 3224-9933
Visite nosso site: www.sicon.org.br




Compartilhe

Veja outras notícias

Negociações coletivas encerradas para as bases territoriais de São Vicente, Santos, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.

+

Leia mais

Atenção: Assembleia Geral Extraordinária - Negociação Coletiva 2024/2025 - Síndicos, participem!

+

Leia mais

Assembleia Geral Extraordinária

+

Leia mais