No Brasil ou em qualquer outro país, a reciclagem navega ao sabor do mercado. Se o preço de revenda é bom, materiais como o PET ou latinhas de alumínio são cobiçados e dificilmente deixam de ser reaproveitados. Mas, se o valor é baixo, perde-se o interesse. É o que acontece, por exemplo, com o vidro. 

Enquanto uma tonelada desse material não alcança nem R$ 150,00 na Baixada Santista, a mesma quantidade de PET, por exemplo, pode ser revendida por até R$ 1,1 mil. Resultado: a maioria dos carrinheiros, cooperativas e empresas que lida com sucata já não se interessa mais pelo material.

Mas, em Brasília, uma pesquisadora, especialista em artes plásticas, está demonstrando que é possível reverter esse quadro, gerando renda para cooperativas por meio da capacitação dos catadores, que passam a atuar como artesãos, desenvolvendo peças de vidro para a construção civil.

Valor agregado
Do ateliê de Adriana Villela saem vitrais, mosaicos, blocos, elementos vazados, azulejos, cúpulas, cubas e telhas (fotos ao lado). Tudo feito com garrafas de bebidas coletadas em bares e restaurantes do Distrito Federal que, ao contrário, pelo baixo valor de revenda, acabariam mesmo em aterros ou lixões.

"Esse tipo de reaproveitamento criativo do vidro agrega mais valor ao material do que a mera reciclagem, que apenas transforma as garrafas em outros recipientes", defende Adriana. Segundo ela, o trabalho artesanal também aumenta a auto-estima e desenvolve o potencial criativo dos cooperados.

"A maior parte dos grupos que recicla vidro trabalha com bijuterias. O trabalho com os materiais para construção civil pode abrir um mercado diferenciado para a produção do grupo", afirma a pesquisadora.

Lucro
O maior investimento é no forno para derreter as garrafas. No projeto, feito em parceria com a Universidade de Brasília, Adriana usa o equipamento instalado em seu atelier. Trata-se de um forno de 70 centímetros, avaliado em cerca de R$ 20 mil (sem contar o custo da instalação, por volta de R$ 10 mil).

Mesmo assim, a pesquisadora, por meio de um estudo de viabilidade econômica do projeto, chegou à conclusão de que ele é rentável. Para fazer um ladrilho de vidro, por exemplo, são necessários R$ 4,50, sendo que cada peça pode ser vendida por até R$ 17,00 no atacado. "A reciclagem de vidro pode render até três vezes o investimento em sua produção".

Pelos seus cálculos, uma unidade de produção que comercialize mil unidades-mês de azulejos obteria uma receita bruta de R$ 15 mi por mês. "Cada cliente usa em torno de 50 azulejos para decorar uma cozinha, por exemplo, que significaria realizar vendas para cerca de 20 clientes ao mês. Uma quantidade que parece bem viável de se alcançar", avalia.

Quem quiser mais informações sobre o projeto desenvolvido pela pesquisadora Adriana Villela, pode consultar os materiais "Vidro: propriedades do material e tecnologias de produção" e "Fusing de vidro: técnicas de trabalho em forno elétrico", disponíveis on-line no endereço: www.sbrt.ibict.br.

Preservação do meio ambiente
O Brasil produz em média 890 mil toneladas de embalagens de vidro por ano, usando 46% de matéria-prima reciclada na forma de cacos. O vidro é hoje o 5o material mais reciclado no País, ficando atrás do alumínio, aço, papel-papelão e plásticos. Já nos Estados Unidos, ele é o segundo material em massa mais reciclado, perdendo apenas para os jornais. O vidro pode ser reciclado inúmeras vezes, pois é feito de minerais como areia, barrilha, calcário e feldspato. Ao agregarmos o caco na fusão, diminuímos a retirada de matéria-prima da natureza, reduzimos os custos de coleta urbana e aumenta-se a vida útil dos aterros sanitários. 

10% de cacos representam  4% de ganho energético;
1 tonelada de cacos representam uma economia de 1,2 tonelada de matérias-primas;
10% de cacos reduz em 5% a emissão de CO2 .

(Fonte: Abividro - www.abividro.org.br)

Para saber mais sobre o mercado do vidro:Cempre - Compromisso Empresarial pela Reciclagem - www.cempre.org.br

Uma história de involução
O curioso nessa história é que o processo de desvalorização do vidro tem origem lá no início da década de 1980. Foi a partir de então que começaram a surgir as PET, as latas de alumínio, as caixinhas longa-vida e, por fim, as garrafas de vidro descartáveis (one-way).

Muito mais fáceis de serem transportadas e estocadas pelos supermercados (que também se multiplicaram nesse período), essas embalagens sepultaram alguns antigos costumes.

Hoje, poucos ainda se lembram da época em que para comprar uma bebida, era preciso levar o vasilhame vazio para fazer a troca (o popular casco).

Mudança ruim
Lá iam as famílias com suas sacolas cheias de garrafas, até as vendinhas dos bairros — que também deram lugar aos super e hipermercados e suas sacolinhas de plástico.

Sem perceber, a sociedade abandonou um estilo de vida sustentável, baseado na troca de uma matéria-prima usada, pelo fenômeno dos descartáveis. Resultado: nunca se produziu tanto lixo como ao longo dos últimos 30 anos.

Algumas entidades, como o movimento PET Consciente, liderado por Marcelo Novaes, em São Paulo, já defende uma espécie de moratória para a produção desse tipo de embalagem. O grupo propõe que o Governo Federal congele as licenças para a abertura de novas fábricas de PET até que o mercado atinja o índice de 90% de reciclagem do material (hoje estimado em quase 50%).

Renata Valt, da Universidade Federal do Paraná, propõe a redução de impostos para prestigiar embalagens que provoquem menor impacto ambiental. "A redução do preço beneficia o consumidor e a cadeia de produção da embalagem de maior reciclabilidade".

Impacto das embalagens  
Renata é autora de um estudo inédito no Brasil, que avaliou o impacto das embalagens sobre aquecimento global, poluição química e esgotamento de recursos naturais.

"O maior consumo de energia durante o ciclo de vida de uma embalagem ocorre para a garrafa PET, que consome 3,5 vezes mais que uma lata de alumínio e 4,5 vezes mais que uma garrafa de vidro".

A fabricação de uma garrafa PET utiliza 4,5 vezes mais recursos naturais que a fabricação de uma lata de alumínio e 3,7 vezes mais se comparada com a garrafa de vidro. Considerando a mesma análise, a PET utiliza 6,3 vezes mais água que uma lata de alumínio e 1,8 vezes mais que uma garrafa de vidro.

A pesquisa também mostrou que a reciclagem contribui para a preservação do meio ambiente, diminuindo o consumo de matérias-primas e energia, e a emissão de resíduos. A única exceção é o aumento do consumo de água para as garrafas de vidro. "Independentemente da taxa de reciclagem empregada, o consumo de água para a garrafa de vidro é superior ao das demais embalagens".

(Fonte: Veiculado no Jornal A Tribuna de Santos, em 05/05/2008)

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