Silenciosos e fatais, os riscos da surdez estão por trás de um simples aspirador de pó ou da exposição demorada aos modernos iPod e outros equipamentos eletrônicos.

A legislação brasileira permite que um operário, sem proteção auricular, seja exposto a apenas 15 minutos diários de sons de 110 decibéis (dB). É a mesma gradação de um show de rock e quase a de uma orquestra sinfônica, que atinge 98 dB, e a de um aspirador de pó, que chega a 80 dB. Há uma tabela que relaciona dois fatores, o tempo de exposição e a intensidade sonora, conforme o otorrinolaringologista Arthur Menino Castilho, do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Campinas-SP.

Diz o especialista que uma pessoa pode ficar exposta continuamente ao som de 80 dB por oito horas. “A cada 5 dB, o tempo de exposição cai pela metade. Então, 85 dB corresponde a quatro horas, 90 dB duas horas, e assim por diante.” Por isso, em algumas fábricas ou ambientes industriais, onde a concentração de barulho é maior, os operários usam protetores, além de os ambientes serem tratados para absorver o excesso de som.

Uma das causas mais comuns, que leva uma pessoa a apresentar perda auditiva, é a rolha de cera que se forma no ouvido, considerada por Castilho boba e reversível. Contudo, quando se fala em perda sensorial complexa, a mais difícil de corrigir, o problema está relacionado a três doenças infecciosas: rubéola congênita, meningite neonatal e sífilis.

“As mães que durante a gestação têm rubéola podem gerar filhos com perda de audição além de outras más-formações. No caso da meningite neonatal, crianças que adquirirem a doença em idade muito precoce podem ficar surdas, seja porque a própria meningite deixa isso como sequela, seja porque os antibióticos lesam a audição. Já a mãe que tem sífilis, doença sexualmente transmissível, corre o risco de gerar uma criança com surdez”, explica Castilho. Ele lembra que as três causas citadas são alvo de campanhas no Brasil, são fáceis de erradicar, desde que se use vacinas para meningite e rubéola e preservativo, no caso da sífilis.

Música
Além das causas físicas, equipamentos modernos, como MP3, celulares e iPod, são apontados como outros fatores de risco à audição. “A pessoa fica exposta por muito tempo, ouvindo um som prazeroso em uma gradação elevada, e não percebe que está lesando a sua audição, pois isso ocorre de maneira devagar e progressiva.”

Esses aparelhinhos estão tão na moda que parecem uma extensão do próprio corpo humano. Para Castilho, o ouvir contínuo faz com que esses aficionados se assemelhem a um monte de zumbis, isolados no seu micromundo, com um penduricalho no pescoço. “O som é tão alto que é possível escutar do lado da pessoa. Isso com certeza lesa a audição.”

Para quem já entrou para o time, o otorrino aconselha a nunca sair dessas sessões de MP3 com zumbido ou dor, pois isso é sinal de que se passou do limiar. “É de bom senso escutar no máximo uma hora por dia, para que, em vez de usar um aparelhinho de audição aos 70 anos, a pessoa não tenha de fazê-lo com 40 ou até mesmo antes”, enfatiza. Ele também orienta para que se controle parâmetros musicais na hora de gravar a música, a fim de que ela não fique saturada em termos de graves e agudos.

Trio elétrico

Nestes tempos carnavalescos, Castilho alerta para os riscos provocados pela exposição aos shows e trios elétricos, causas frequentes de traumas acústicos. “Esses casos estão mais comuns, porque as pessoas ficam cada vez mais tempo atrás de um trio elétrico ou perto de uma caixa de som durante um show. Essa exposição associada a álcool, cigarro e, eventualmente, outras drogas, potencializa muito a lesão da audição.”

Segundo o médico, a lesão só de um lado é fácil identificar, porque permite a comparação com o outro, porém há pacientes que têm perda bilateral simétrica na mesma proporção. É quando ocorre a perda de parâmetros para comparação entre um ouvido e outro, e a pessoa não consegue determinar com precisão como está escutando menos. Mas existem também sintomas, como o zumbido e a perda do equilíbrio, associados ao labirinto e interconectado com a audição, no caso a cóclea. Algumas doenças, como a chamada Síndrome de Meniére, afetam todo o sistema co-cleovestibular e causam perda de audição e do equilíbrio.

Castilho lembra de pessoas que têm perdas de audição com mais facilidade do que outras. “Isso provavelmente é decorrente do perfil genético; há quem seja mais sensível à exposição de ruídos. Não existe uma maneira de explicar esse fato cientificamente. Está relacionado com mecanismos de proteção próprios da parte interna do ouvido, que são variáveis de pessoa para pessoa.” Com o passar do tempo, no entanto, o sistema auditivo sofre um envelhecimento natural, a que se dá o nome de presbiacusia, variável de pessoa para pessoa também. Não há ainda o que se fazer para evitar esse processo que, embora progressivo, é bastante lento, conforme o especialista. (M. A.)

Implante coclear

Há pouco mais de 30 anos, um paciente com perda auditiva bilateral e profunda passou a ter a oportunidade de conhecer o mundo dos sons, graças ao implante coclear. ”É um dispositivo eletrônico, conhecido como ouvido biônico e instalado por meio de cirurgia. Ele faz o papel da cóclea”, explica o otorrinolaringologista Arthur Menino Casti-lho. O dispositivo estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo. Após a decodificação pelo córtex cerebral, o usuário consegue perceber o som. Existem hoje no mundo mais de 60 mil usuários de implante coclear.

É possível avaliar a capacidade auditiva por meio do Teste da Orelhinha, ou Triagem Auditiva Neonatal, realizado no segundo ou terceiro dia de vida do bebê. O exame, que não é feito em todas as maternidades, consiste na colocação de um fone acoplado a um computador na orelha do bebê que emite sons de fraca intensidade e recolhe as respostas produzidas pela orelha interna do bebê. “A cirurgia pode ser feita a partir do sexto mês de vida. Quando é realizada nessa faixa etária, a criança tem um desempenho de audição normal.” No caso do adulto surdo há muitos anos, o trabalho de reabilitação e de ensinar os sons é bastante complexo.

A resposta de frequência não é igual para todos os implantados. Ela depende do desempenho do paciente; do que ele vai escutar, interpretar; da doença que provocou a surdez; do tempo de surdez que ele tem; da memória auditiva que ele formou. “O espectro frequencial que um implante coclear proporciona é suficiente para que o paciente se comunique. A resposta de frequência é muito parecida. Alguns conseguem até falar em telefone celular”, finaliza. 

Fonte: Revista Kalunga

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