Dividir espaços comuns, aprender a aceitar defeitos, cobrar sempre que preciso e respeitar limites. Esta relação tão semelhante ao casamento também se encaixa perfeitamente como definição da convivência entre vizinhos. Seja morando em casas ou apartamentos, esta pessoa pode ser um amigo para todas as horas ou, em alguns casos, um inimigo que mora logo ao lado. A boa vizinhança geralmente é assim: uma questão de pura sorte.

Não é difícil encontrar alguém que já tenha passado por alguma situação incômoda por causa do vizinho. Seja por causa de um aparelho de som funcionando em alto volume ou por outros desrespeitos às normas de postura dentro de um edifício residencial. Aliás, em casos extremos de desavenças entre vizinhos, assuntos que poderiam ser resolvidos apenas pelo diálogo acabam gerando atitudes de descontrole, desembocando até em agressões físicas e verbais.

Em contrapartida, também existem verdadeiras famílias que se formam a partir da amizade cultivada e consolidada por meio da proximidade dos lares. Pessoas que se permitem ajudar e serem ajudadas por quem vive apenas com uma parede de separação. Seja para momentos de emergência, como um acidente doméstico, mas também para compartilhar dúvidas e tristezas, como acontece entre amigos e familiares queridos.

“Os três mosqueteiros”
Igual ao que acontece na obra do francês Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros, o aposentado Heitor Vidal, a dona-de-casa Edith Xavier Rodrigues e a massagista Vitalina Herbetta, dizem que também são ‘um por todos e todos por um’, assim como diz o lema do trio no famoso romance. Todos residem no mesmo andar de um edifício no bairro da Encruzilhada, em Santos. Os laços de amizade e cumplicidade entre os três já se tornaram tão fortes que Vitalina chama carinhosamente Edith de ‘mãe’. Já Edith, por sua vez retribui considerando a massagista sua ‘filhona’. Seu Heitor entra como o ‘tio’ da relação, ‘irmão’ de Edith.

Entre o aposentado e a dona-de-casa a amizade já havia começado desde muito antes de se tornarem proprietários de apartamentos em um andar do mesmo prédio. Depois de vários anos sem se encontrarem, passaram a ser vizinhos de porta. “Ficamos muito felizes pelo nosso reencontro. Antes era minha filha que morava na unidade em que estou hoje, mas acabei tendo que trocar com ela pelo fato de o edifício possuir elevadores. Daqui não saio mais”, garante Edith, que possui cópias das chaves dos apartamentos dos outros ‘dois mosqueteiros’.

Vitalina é a caçula do andar, morando há 10 anos no edifício que possui quatro apartamentos por andar. Segundo ela, a antiga proprietária do imóvel, ao descrever a vizinhança, disse que era exatamente este o ponto alto em se morar na unidade que estava a venda. “E ela estava certa. Teria me arrependido amargamente se não tivesse fechado negócio”, acredita.

O companheirismo e dedicação começaram, entre ‘mãe e filhona’, desde a mudança da massagista. “Edith sempre me mimou muito, trazendo doces e lanches para mim à noite quando chegava tarde do trabalho. É o tipo de coisa que não se vê mais hoje em dia em lugar algum”, comenta Vitalina.

E foi em momentos difíceis que a amizade também esteve presente. Como no dia em que o apartamento de Vidal foi tomado pela água, que veio de um cano do banheiro que estourou e deixou ele e a esposa, Iracema Vidal, com móveis, roupas e outros pertences completamente encharcados. “Todos me ajudaram a resgatar pertences que poderiam ter sido perdidos tamanho o estrago. O susto foi grande, mas a recuperação foi graças à amizade”, lembra o aposentado.

Quando perguntados sobre a possibilidade de um deles mudar de residência ou de uma possível separação, todos são unânimes em dizer que mesmo que a distância física aconteça, os três continuarão ligados por laços mais fortes. “Nossa relação é baseada em muito amor, confiança, respeito e amizade. Somos inseparáveis”, explica Vitalina. “Toda noite agradeço pela sorte que tive em estar próximo de pessoas tão especiais. É uma pena não ser amigo dos próprios vizinhos”, reitera ‘Seo’ Heitor.

Vou chamar o síndico!
Figura marcante em qualquer condomínio, o síndico é a pessoa eleita pelos outros condôminos que fica responsável por zelar pela segurança de todos. Além disso, atua, basicamente, como um juiz em relação à tomada de decisões importantes em favor do edifício e das áreas comuns, desde que tenha a aprovação e respaldo de um certo contingente de moradores. Está também entre as obrigações de um bom síndico, agir em torno de questões sociais do prédio, como o descumprimento de regras pré-estabelecidas por um regulamento de posturas por algum condômino que esteja afetando os demais.

E foi exatamente com o objetivo de zelar pelos demais moradores, que Mônica Marques, vendedora autônoma, se candidatou ao cargo de síndica do edifício onde mora, no Bairro do Embaré. “Já sabia que ia ser difícil, pois é impossível agradar a todos. Mas tem sido uma tarefa mais árdua do que imaginei para mim”, afirma. Mônica já ocupa o cargo de liderança do prédio há quatro anos.

Ela conta que sofre com as perseguições e insultos de uma minoria de moradores que insiste em chamar copiosamente a polícia para tentar resolver problemas que, segundo ela, não existem, como o estabelecimento da área dedicada ao lazer das crianças do local. “Um destes maus-vizinhos jogou dois baldes de água em cima dos pequenos. Esta área foi escolhida em acordo com os outros moradores”.

Mônica também revela que a insistência em desobedecer às normas de conduta dentro do residencial chegou ao ponto de ameaças aos próprios funcionários que trabalham com a segurança e limpeza no local. “Eles dizem que vão me tirar do cargo que tenho para mandar todos eles embora, além de outras ofensas com palavras de baixo-calão. Por outro lado, existem aqueles que me falam que saem do edifício se eu desistir de ser síndica”.

Para ela os principais motivos para a discórdia entre os vizinhos é o abrigo de carros de visitantes dentro da garagem do edifício, o que é proibido, e a reforma que o prédio está sofrendo em seu topo. “Enquanto tento fazer daquele espaço uma área de lazer útil a todos, os implicantes tentam, sem sucesso, denunciar as obras à Prefeitura e aos Bombeiros. Mas toda a documentação e permissão para esta revitalização está em dia”, pontua.

De acordo com a vendedora, a desavença entre ela e essa minoria de condôminos já se transformou em ação judicial. “Um dos moradores me agrediu fisicamente. Prestei queixa por lesão corporal e o processo está correndo. Tudo por pura ignorância”, conclui.

Muitas dúvidas
O advogado e presidente do Sindicato dos Condomínios Prediais do Litoral Paulista, Rubens Moscatelli, diz que é comum comparecerem ao órgão síndicos com muitas dúvidas de como proceder em situações em que vizinhos se desentendem por um determinado assunto. “Deve-se entender que o síndico só pode intervir quando a conduta de um morador prejudica o conjunto dos condôminos. Caso contrário, os dois lados da questão devem entrar em um acordo independente do síndico”, explica.

Moscatelli também esclarece que acionar a polícia não adianta na maioria dos casos. “O Boletim de Ocorrência nem é feito no local. Para que a queixa seja formalizada é necessário comparecer à Delegacia de Polícia, papel no qual ninguém se dispõe a cumprir. Para que este tipo de inconveniente não aconteça, é importante saber dialogar e fazê-lo sempre que possível. Outro ponto é participar ativamente da vida do condomínio, freqüentando as assembléias e conhecendo as normas do local onde mora”, aconselha.

(Fonte: Veiculado no Jornal Boqueirão News, em 18 a 24/08/2007)







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