A cidade de São Paulo desperdiça diariamente 1 bilhão de litros d’água, volume que equivale ao de 1 milhão de caixas d’água ou 12,3 metros cúbicos por segundo. Os dados foram divulgados ontem, na Capital, pelo Instituto Socioambiental (ISA), que está lançando a campanha De Olhos Nos Mananciais, com o objetivo de conscientizar a sociedade e o Poder Público sobre a importância de se preservar o líquido produzido para consumo da população.

O evento aconteceu na manhã de ontem no Espaço Rosa Rosarum, bairro de Pinheiros, na Capital, com a presença de diversas autoridades e representantes de entidades civis.

O desperdício ocorre por vários fatores. Desde um pequeno vazamento no interior de uma casa ou apartamento até os problemas provocados pela situação precária da estrutura da rede de distribuição, que precisa ser modernizada para evitar perdas durante o abastecimento.

Coordenadora do estudo sobre os mananciais das capitais, Marussia Whately explica que a questão é grave e precisa ser avaliada com urgência. “Vemos que já há ocupações a menos de 50 metros da reserva da Cantareira, que é o maior manancial da Região Metropolitana de São Paulo. Precisamos acabar com a cultura de expandir o perímetro urbano sobre as áreas de mananciais, porque senão, dentro de 20 anos, sentiremos os efeitos diretos dessas ocupações desordenadas”.

Essa situação, aliada com a falta de uma cultura de preservação ambiental, gera um quadro desanimador na visão dos especialistas. “O Município de São Paulo joga fora, por dia, 1 bilhão de litros, que serviriam para atender o equivalente a 38 milhões de pessoas. Nós estamos tomando como base somente a produção das estações de tratamento que atendem à Capital, no caso, os sistemas Cantareira, Guarapiranga/Billings, Rio Claro e Alto Tietê”.

A média de consumo de água na Capital também é considerada alta, levando-se em conta os padrões recomendados pela Organização das Nações Unidas (ONU). O consumo médio diário é de 221 litros por habitante, enquanto que a ONU recomenda 110 litros diários por habitante.

“A verdade é que o brasileiro, de uma forma geral, ainda não sentiu a necessidade de tomar cuidado ao fechar uma torneira ou ao perceber um vazamento na tubulação existente na rua. É muito comum vermos pessoas usando mangueiras para varrer as calçadas ou até mesmo molhar as paredes para diminuir o calor dentro de casa”, assinalou Marussia Whately.

Outro ponto destacado foi o contraste do desempenho do consumo entre os bairros. Higienópolis, por exemplo, apresenta consumo de 500 litros/dia por habitante, enquanto que os bairros da periferia gastam pouco mais de 100 litros/dia por habitante.

Representante do Movimento Nossa São Paulo Outra Cidade, Oded Grajew disse que o grupo apóia a iniciativa do ISA e espera que o Poder Público estadual e municipal tomem as providências necessáriaspara evitar um colapso no atendimento. “Se não houver um engajamento sério e permanente nesse assunto, todos nós iremos sofrer as conseqüências, de uma forma ou de outra”.

O secretário municipal de Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge, se comprometeu a fazer gestões no sentido de evitar as ocupações irregulares. “Realmente é preciso fazer algo e estamos atentos a essa questão”.

Quase 400 famílias não são abastecidas
Na Capital existem cerca de 386 famílias vivendo de forma precária e irregular em loteamentos e favelas. Considerando uma média de 3 pessoas por família, essa população ultrapassa 1 milhão de pessoas e equivale a 10% do total de habitantes do Município.

O acesso a água é um dos problemas enfrentados por essa população. Como a ocupação é irregular, a instalação de serviços de água, esgoto e energia elétrica não pode ser realizada. Por isso é que em muitos locais há ligações clandestinas.

O consumo de água por esse tipo de ligação, denominado de uso social, corresponde a aproximadamente 14% do total de água consumida, ou seja, cerca de 337 milhões de litros de água.

Como as ligações clandestinas são feitas de forma precária, acabam representando grande risco para a saúde pública. Isso porque a canalização acaba ficando exposta às fontes de contaminação. Em boa parte desses locais, o esgoto corre a céu aberto e próximo dos canos de água.

Entrevista – Marussia Whately, coordenadora do Programa De Olho nos Mananciais

“O alerta vale para todas as regiões”
Ao começar o estudo sobre os mananciais, Marussia Wathley não esperava se deparar com uma realidade tão presente em relação ao desperdício. Ela afirma que, embora a pesquisa se restrinja às grandes capitais, também serve para nortear os trabalhos nas demais regiões metropolitanas dos estados.

Como a Sra. Avalia a situação do Litoral Paulista?
Cabe para a Baixada Santista buscar um modelo diferente assim como na Capital, que não destrua ou prejudique os mananciais, aproveitando melhor os recursos que são escassos nessa como nas demais regiões. Isso inclui tanto a empresa responsável pela distribuição (Sabesp) como a própria população, que no seu dia-a-dia pode promover um uso bem mais nacional da água. O estudo foi feito nas capitais. Mas o alerta serve para todas as regiões.

Durante o estudo, a Sabesp colaborou fornecendo dados. O que foi informado sobre os investimentos, uma vez que o saneamento básico ainda é precário na maioria dos nove municípios da região da Baixada?
A empresa tem procurado atuar no sentido de evitar perdas. Ela estabeleceu metas para diminuir as perdas. Tenho conhecimento que algumas ações estão em andamento. Mas não tenho um prazo de quando essas metas serão cumpridas.

Como a Prefeitura pode atuar nessa questão?
Aqui, na Capital, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente tem trabalhado no sentido de ampliar os parques e controlar as invasões. Esse papel pode ser seguido pelas Prefeituras de uma forma geral. Não conheço os detalhes da situação da Baixada Santista, mas certamente deve haver problemas com ocupações irregulares.

(Fonte: Veiculado no Jornal A Tribuna de Santos, em 22/11/2007)

Assessoria de Imprensa do Sicon
Av. Conselheiro Nébias, 472 - Encruzilhada - Santos - SP
Fone/Fax: (13) 3224-9933
Visite nosso site:
www.sicon.org.br

Compartilhe

Veja outras notícias

Negociações coletivas encerradas para as bases territoriais de São Vicente, Santos, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.

+

Leia mais

Atenção: Assembleia Geral Extraordinária - Negociação Coletiva 2024/2025 - Síndicos, participem!

+

Leia mais

Assembleia Geral Extraordinária

+

Leia mais