Imagine uma casa totalmente ecológica. Sistema de captação de água pluvial, para encher a piscina toda revestida de pastilhas de vidro reciclado, painéis solares de captação de energia, no telhado, para  o aquecimento da água de banho e torneiras, e a coleta de lixos recicláveis e orgânicos são algumas de suas atenções com o meio ambiente. Essa casa, ou melhor, um conjunto de 58 unidades dela, já é algo real, uma prova de que essa preocupação ambiental já está, de fato, entrando nos lares.

Trata-se, pois, de um curioso conjunto habitacional de Praia Grande, que está em fase final de construção: o Ecovila, primeiro condomínio de conceito ‘lixo zero’ da região metropolitana, além de ser um trabalho pioneiro no país.

A obra foi inspirada nas ecovilas européias, um movimento iniciado na década de 1970 e que, entre outros pontos, prega a utilização racional dos recursos naturais. Para isso, o projeto buscou soluções que facilitem o descarte do lixo por parte dos moradores, permitindo que a coleta, tanto dos lixos recicláveis quanto da fração dos orgânicos, possibilite o maior reaproveitamento possível.
Uma das providências foi criar um condomínio horizontal, composto por casas de 2, 3 e 4 dormitórios, entre 120 e 240m² de área útil. No subsolo, em frente a cada garagem, haverá coletores separados para os diferentes materiais. 

Carrinhos manuais farão a coleta e o transporte dos dejetos até uma central de tratamento do próprio conjunto. Nessa área de 22m², materiais como as latas de aço serão prensadas em fardos para venda. Quanto ao lixo orgânico, será encaminhado para compostagem (transformação em adubo).

Com base na produção padrão de lixo de uma família de quatro pessoas, o condomínio prevê reaproveitar 75 toneladas de materiais ao ano, sendo 45 toneladas de lixo orgânico e 30 de recicláveis, como alumínio, plásticos, papel, papelão, embalagens longa-vida e vidro. Segundo cálculos do engenheiro Jaime Caettano, diretor da ONG Recicla Brasil, todo esse montante de recicláveis equivale a cerca de R$ 30 mil, com base nos preços praticados hoje no mercado. “Na verdade, esse é apenas o valor de venda. Há ainda a economia indireta, de água e energia elétrica, proporcionada pelo reaproveitamento desses insumos pelas indústrias, o que acentua o benefício ambiental do reaproveitamento do lixo”, afirma. 

Assim, de acordo como empresário responsável pelo projeto, empresário Eliude Rodrigues Souza, “toda a economia proporcionada ao morador permite, ainda, que as taxas condominiais sejam, em média, 50% mais baixas do que as tradicionais”.

A economia que a Ecovila proporcionará também será sentida nas contas de luz e de água das residências. Com um reservatório central para captação de até 300 mil litros de água de chuva, bombeadas pela rede interna por meio de um catavento, o líquido será tratado e poderá ser utilizado nas piscinas. Quanto às placas solares de aquecimento de água de banho e torneiras, podem reduzir em até 50% o gasto com o chuveiro elétrico, um dos principais vilões da conta de luz em uma casa. 

Números

Praia Grande, segundo a Prefeitura, gera uma média de 5.400 toneladas de lixo doméstico ao mês (sem contar os resíduos hospitalares e entulho). Para coletar e encaminhar esses dejetos para o aterro da cidade de Mauá, no Grande ABC paulista, o município gastou, no último mês de abril, R$ 914 mil – um valor que representa hoje cerca de 10% da folha de pagamento da Prefeitura, estimada em R$ 10 milhões ao mês, ou ainda quase dois meses de merenda escolar, com a qual Praia Grande gasta, apenas na compra de alimentos (25 toneladas de arroz, 15 toneladas de carne, 15 toneladas de frango e 65 toneladas de verduras, frutas e legumes entre outros), R$ 475 mil mensais. 


Fonte: Jornal da Orla.