Imagine a seguinte cena: uma empregada doméstica entra no elevador social com o carrinho de compras e a síndica do edifício vem em seguida. Indignada, a síndica puxa as duas orelhas da funcionária para servir de exemplo às demais que trabalham no local para que todas sigam as regras do condomínio. Segundo a doméstica Valdilene Maria Batista, 39 anos, o episódio aconteceu de fato. Ela registrou queixa na polícia contra a síndica do Edifício Tortugas, localizado na Rua Carlos Pereira Falcão, onde trabalha, em Boa Viagem. Valdilene acusa a dentista Vera Pimentel, que administra o condomínio, pela agressão e constrangimento. A Delegacia de Boa Viagem intimou a síndica a prestar esclarecimentos. No mês passado, o Ministério Público do Trabalho em Pernambuco recebeu a primeira denúncia de preconceito contra domésticas do Edifício Jardins do Rosarinho, que estariam sendo proibidas de passar pelo hall e andar no elevador social.

Segundo a empregada doméstica de BoaViagem, a agressão teria ocorrido na manhã do último dia 9, véspera do feriado de Semana Santa. O advogado Djalma Raposo Filho, que a defende, afirmou que tudo foi registrado pelo circuito interno de segurança do edifício. "As imagens chegaram a ser assistidas na tarde do mesmo dia por dois moradores do condomínio. Mas, quando solicitei formalmente cópias da gravação, fui informado que o equipamento só guardava imagens dos últimos cinco dias", disse Raposo.

Valdilene Maria contou que naquele dia, desceu por volta das 10h30 para o primeiro piso do prédio, onde trabalha há 12 anos, para pegar o carrinho e levar para o apartamento no quarto andar. "Meus patrões iam viajar na véspera do feriado e por isso eu precisava levar o carrinho para transportar a bagagem. Como o elevador de serviço estava demorando muito, resolvi pegar o social", justificou a empregada doméstica que afirmou conhecer bem as regras do condomínio. Segundo Valdilene Maria, quando a porta do elevador já estava fechando, ela foi surpreendida pela síndica. "Ela já entrou puxando as minhas orelhas e dizendo que isso iria servir de exemplo para as outras domésticas", falou.

Nervosa, Maria Valdilene esqueceu de apertar o botão para o quarto andar e acabou subindo até 15º, onde reside a síndica. "Fiquei mais constrangida ainda porque o vice-síndico também estava no elevador e assistiu a tudo e não disse nada. Sei que estava errada, mas não era motivo para ela agir daquela forma comigo. Será que se fosse um dos moradores, ela faria o mesmo?", questionou. A empregada só procurou a delegacia na manhã deo dia 14, pois teve receio de fazer a denúncia antes. "Fiquei com medo, mas pensei direito e resolvi denunciar em nome da minha categoria", desabafou.

Constrangimento
O estudante Thiago Souza, que assistiu a gravação, disse que as imagens traziam o momento em que a síndica entrava no elevador e puxava incialmente uma das orelhas da doméstica e depois a outra. "Ficou claro que houve um constrangimento e preconceito por parte da síndica", defendeu o rapaz para quem Valdilene Maria trabalha. O advogado Djalma Raposo Filho espera que sua cliente seja reparada moralmente. "Houve uma agressão física e moral. A síndica poderia ter chamado a atenção da doméstica de outra forma, inclusive enviando uma advertência para o apartamento em que ela trabalha", comentou. Como o crime é considerado de menor potencial ofensivo, a queixa contra a síndica do edifício Tortugas será encaminhada para o juizado especial criminal. Se for condenada judicialmente, ela poderá pegar uma pena alternativa.

A presidente do Sindicato das Empregadas Domésticas de Pernambuco, Eunice do Monte, considerou um absurdo a agressão. "Não dá para entender como pessoas que se dizem esclarecidas agem dessa forma", comentou. O advogado criminalista José Augusto Branco orienta que em casos como este, a doméstica procure registrar a denúncia em uma delegacia. "Se a vítima conseguir reunir provas, melhor ainda", observou. Por telefone, o Diario procurou a síndica. Ela estava atendendo em seu consultório odontológico, em Boa Viagem. Na segunda ligação, a secretária da dentista, de nome não informado, disse à reportagem que a síndica não devia a ninguém e que iria tomar providências, contratando um advogado. Vera Pimentel não quis dar entrevista.

Fonte: Diário de Pernambuco

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