No último domingo, 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco, foi mais uma data para motivar o abandono de um vício considerado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Estima-se que o uso do tabaco cause por ano 4,9 milhões de mortes, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.

Este ano entrou em vigor no Estado de São Paulo a lei antifumo, de autoria do governador José Serra, que proíbe o uso de cigarro em ambientes coletivos fechados, públicos ou privados, sob pena de multa aos donos dos estabelecimentos, que têm até julho para se adaptarem. É mais uma medida restritiva, que vem somar-se às outras já aplicadas, como a proibição de propaganda de cigarro na mídia e o uso limitado em ambientes fechados e espaços públicos, contribuindo para a redução do tabagismo por uma simples lógica: com mais empecilhos pela frente, os fumantes acendem menos cigarros.

Os que defendem a nova lei - que parece ser a maioria - evocam o direito de não serem obrigados a conviver em ambientes contaminados pela fumaça do cigarro, que contém 4.720 substâncias tóxicas (o veneno maior está no papel). A queixa de muitos fumantes é, principalmente, quanto à visão unilateral da questão e à forma como vêm sendo tratados, quase criminosos.

Mas parar de fumar não é tão fácil como pensam os que nunca puseram um cigarro na boca. Além da dependência física, existe a dependência psicológica e já há evidências de que o tabagismo tenha um componente genético. Uma das barreiras no abandono do vício é que para os fumantes é normal associar comportamentos e situações ao ato de fumar, ou chamados "gatilhos". Ou tomar uma bebida alcoólica, um cafezinho, viver uma situação de estresse ou ansiedade, é ou não é um bom pretexto para acender o "famigerado"?

Ambulatório ajuda a largar o cigarro
Muita gente não sabe, mas em Santos existe um serviço gratuito que oferece assistência profissional para quem quer se livrar do vício do cigarro. É o Ambulatório de Tabagismo do Hospital Guilherme Álvaro, vinculado à Liga de Combate à Nicotina do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da Fundação Lusíada. A unidade funciona há 12 anos e hoje é considerada referência nacional pelo Ministério da Saúde, o que permite ministrar medicamentos, caso o tratamento comportamental não surta resultado. O atendimento é prestado pelos alunos do curso de medicina toda terça-feira, das 11h30.

Determinação e apoio são fundamentais para abandonar o cigarro. "80% dos fumantes têm necessidade de acompanhamento profissional. O tabagismo envolve dependência química e psíquica, por isso é preciso trabalhar os dois aspectos", explica o médico pneumologista Rui Coelho Pereira, coordenador do Ambulatório de Tabagismo. Além dele, atuam na unidade a médica Selma Freire e a psicóloga Ana Cristina.

Como funciona
O fumante chega por vontade própria ou indicação médica e passa a integrar um grupo que, a princípio, se reúne semanalmente. Os participantes recebem orientação psicológica sobre o componente psíquico do hábito tabágico, a síndrome de abstinência e outras fases que terão que atravessar para vencer o desafio, e recebem atendimento individualizado, que traça o perfil de dependência química de cada um.

A pessoa não tem que parar de fumar do dia para noite; a quantidade de cigarros consumida vai sendo diminuída mensalmente para que o cérebro não perceba a redução. O prazo para largar o vício é de um mês e a medicação é aplicada quando o paciente não consegue cumprir as metas semanais. Vencido esse tempo, os encontros passam a ser quinzenais e depois mensais, até completar um ano, prazo que consolida o abandono do vício. O médico Rui Coelho conta que o pior a vencer é a crise de abstinência, que faz com que metade dos que procuram ajuda desistam do tratamento. Entre outros efeitos, ela provoca irritação, insônia e perda de concentração.

Tem gente que até consegue largar de uma tacada só, mas é preciso ter uma personalidade bastante forte ou um apelo poderoso, como um susto, uma doença, a morte de alguém próximo, o pedido de filhos, acredita o médico.  "Ninguém larga o cigarro sem sofrer", diz Rui Coelho, obviamente favorável à nova lei. "A maioria dos fumantes também concorda com ela. Ninguém está proibido de fumar, a pessoa tem a liberdade de se ausentar do ambiente para acender seu cigarro, o que não pode é impingir substâncias nocivas para quem não queira".

Quando mais cedo, pior
Hoje, há evidências que o tabagismo pode se tratar de um problema genético, mas certo é que o vício é adquirido por quem desenvolve mais receptores nicotínicos cerebrais. "Não dá para saber se uma pessoa tem maior predisposição a desenvolver esses receptores. Isso só é descoberto no momento que colocar o cigarro na boca, mas há alguns indícios que podem sinalizar o perigo, como o indivíduo chocólatra, álcoolatra e portadores de distúrbios psíquicos". Quando o fumo é associado ao álcool, a nicotina é eliminada mais rapidamente do organismo e o corpo passa a pedir mais, por isso é comum fumar mais quando se bebe.

A boa notícia é que o tabagismo vem caindo no Brasil: há três anos tínhamos 32% de fumantes no país, hoje estima-se entre 20 e 23%, mas ainda assim há muitos adolescentes experimentando cigarro e essa é uma faixa de risco para se viciar. "É quando o individuo desenvolve receptores nicotínicos no cérebro e fica mais difícil se livrar deles. Mas o número está decrescendo, comparado a outras décadas como a de 70, quando o ato de fumar era símbolo de rebeldia".

Faltam remédios
Rui Coelho acusa o Ministério da Saúde de não enviar remédios necessários para o Ambulatório de Tabagismo há um ano. São repositores de nicotina na forma de adesivos na pele e chiclete, além de antidepressivos, que constam da metodologia descrita pelo próprio Ministério no caso da dependência química e psíquica. "Estamos conseguindo suprir nossos pacientes a muito custo, com doações e amostras grátis, mas não sei até quando".

Nos repositores transdérmicos, a nicotina entra na corrente sanguínea e enganam os receptores no cérebro, que não identificam de onde ela vem, se via pulmão ou pele. Da mesma forma funcionam os repositores em forma de chicletes.

O mais novo e potente medicamento contra o cigarro é o Champix, ainda de uso limitado devido ao alto custo. Segundo o médico, trata-se de uma medicação não nicotínica que tem como base a substância vareniclina. "Ela preenche o receptor antes do tabaco e impede que a nicotina ocupe esse receptor, fazendo o cigarro perder a graça. O tratamento dura normalmente oito semanas".

Veneno está no papel e na lavoura
A cada tragada, o fumante inala 4.720 substâncias químicas, entre elas cianureto (remédio para matar rato), acetona, arsênico, metanol, butano. Em termos de radiação, fumar um maço de cigarros por dia significa o mesmo que tirar 150 radiografias por ano, praticamente uma a cada dois dias. O veneno está contido principalmente no papel. Rui Coelho explica que, no passado, só havia cigarro de palha, que apagava a todo momento. A indústria desenvolveu, então, um tipo de papel que não apaga o cigarro, mas para isso utiliza uma quantidade enorme de produtos nocivos à saúde. Nas plantações de tabaco também se aplica muito veneno para combater as pragas (como DDT, cianureto), que acaba entrando nas folhas e é inalado pelo fumante.

95% sabem dos riscos do cigarro à saúde
Uma pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), que integra o "Projeto Internacional de Avaliação do Controle do Tabaco", mostra que a maioria dos fumantes conhece os riscos causados pelo cigarro. Entre 80% e 95% sabem que estão sujeitos a doenças cardíacas, câncer de boca e de pulmão, além de derrame e impotência sexual. O menor porcentual de informação no estudo estava relacionado à cegueira - 57% dos fumantes não sabiam que esse também é um dos efeitos do tabagismo.

Dos 16 países que fizeram parte do estudo, o Brasil é o segundo (atrás da Holanda) no ranking de fumantes que querem largar o vício - 79% dos brasileiros têm essa pretensão e 58% estabeleceram a meta para os próximos seis meses.

Os prejuízos do fumo passivo
Os prejuízos causados à saúde dos chamados fumantes passivos serão o mote das atividades organizadas pela SMS (Secretaria de Saúde), em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco. O problema será retratado pelo Grupo de Teatro do Cempri (Centro Municipal de Prevenção Primária ao uso de Substâncias Psicoativas), por meio da exibição da cena "Se eu fumo, tu também fumas!".

Construída com base nas técnicas do Teatro do Oprimido - que prevê diferentes desfechos a partir da interferência da plateia -, a cena fala do fumo no ambiente familiar e será apresentada hoje, dia 1º, a partir das 10h, na Escola do Sesi (av. Nossa Senhora de Fátima, 366), na Zona Noroeste, e no dia 4, no mesmo horário, para funcionários da  Caramuru Alimentos (av. Pedro Lessa, 1064).

Fonte:
Jornal da Orla

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