Um dos mais belos bairros da cidade, o Gonzaga é o destino de muitos que buscam um passeio agradável e daqueles que diariamente vão e vêm do trabalho. É o bairro da Praça da Independência, da avenida Ana Costa, dos shoppings e das galerias. O Gonzaga é sinônimo de lazer, compras, boa gastronomia e da própria memória da cidade. Afinal, são  120 anos de história.

Tudo começou com um bar
A história do bairro do Gonzaga, em Santos, que neste domingo faz aniversário, começou na rua Marcílio Dias onde um comerciante chamado Luiz Antonio Gonzaga tinha um bar e o local era ponto de referência para os bondes que ligavam as praias ao centro. Doutora em história, a professora Cida Franco conta que o bar virou ponto para os passageiros. "As pessoas que passavam por lá diziam: É ali perto do Gonzaga, vou descer próximo ao Gonzaga. E assim o bairro ganhou esse nome. O bar servia também para as pessoas se abrigarem do sol ou da chuva".

Com avenidas, shoppings, e hotéis que fazem parte do cotidiano da cidade, o Gonzaga representa o cartão-postal  de Santos. Sem falar das praias. Uma paisagem que contagia quem passa pelo calçadão, com um toque histórico do bonde e da Praça das Bandeiras. "Quando as praias começam a ser frequentadas pelos moradores e turistas, os comércios e grandes restaurantes começam a surgir. Esse é um dos motivos que o local oferece: boa gastronomia e variedade do comércio", ressalta a historiadora. Ela lembra que o bairro já foi considerado uma verdadeira cinelândia, pois reunia os melhores cinemas da cidade.

O bairro é conhecido como um lugar em que as  pessoas  buscam entretenimento, cultura, boa comida, moda e, é claro, alegria. Quando o time do Santos ganha algum campeonato, a comemoração acontece na praça da Independência, que já virou ponto de encontro dos torcedores do peixe.

Completando 120 anos, no coração da cidade, vivem cerca de 25 mil moradores e mais de mil comerciantes que disputam clientes e turistas que passam pelo Gonzaga. "É um bairro que deixa a gente à vontade, como se estivesse em casa. Sabemos que a nossa cidade é linda, mas o Gonzaga nunca vai perder o trono”, finaliza.

Praça da Independência
Ponto de referência e de encontro no Gonzaga, a Praça da Independência impressiona pela beleza e  imponência do Monumento aos Andradas. No entanto, poucos dos que passam por ele constantemente param para pensar em seus significados. Inaugurado em 1921, o monumento idealizado pelo historiador e ex-diretor do Museu Paulista, Affonso dchr39Escragnolle Taunay, e composto por esculturas de Antoine Sartorio, é uma homenagem aos irmãos José Bonifácio, Martim Francisco e Antonio Carlos de Andrada e Silva, personalidades santistas de grande importância na história do Brasil.

Propositalmente de costas para a praia e voltado para o interior, o monumento representa a emancipação do Brasil de Portugal, com representações de várias cenas históricas do processo de Independência em que os irmãos Andrada estiveram envolvidos. Embaixo de cada escultura, inscrições explicam cada um desses momentos. A grande obra, construída em granito e bronze, é sustentada por escadarias que simbolizam a sedimentação e a evolução do país a partir de sua autonomia.

Um elefante branco
Você já se imaginou dono de uma propriedade avaliada em milhões de reais e não poder dispor de um centavo deste patrimônio? Pois é o que está acontecendo com o empresário Armando Lopes, proprietário de um imóvel com 30 mil m² de área construída, em terreno de 40 mil m² na praça Rotary, atrás do Shopping Parque Balneário, em pleno coração do Gonzaga.

O imóvel, que faz frente para as ruas Carlos Afonseca e Fernão Dias, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) há  cerca de 15 anos e, desde então, começaram as dores de cabeça de Lopes, que adquiriu a propriedade nos anos 70  e a manteve alugada por 27 anos para a Diretoria Regional da Saúde - DIR/19, da Secretaria de Estado da Saúde. O prédio foi desocupado há mais de uma década e, a partir daí, não teve mais destinação comercial definida por ser um bem tomado.

O principal argumento do Condepasa é que se trata do último bloco remanescente do antigo Parque Balneário Hotel, complexo hoteleiro e turístico demolido nos anos 70. Segundo consta no processo de tombamento, o prédio tem linhas neoclássicas semelhantes ao conjunto principal, apesar de não ter o mesmo requinte.  Já Armando alega constar do processo o fato de o ex-presidente Washington Luis ter dormido ali uma noite no longínquo ano de 1935. "Esse anexo foi construído nos anos 40! Era uma edícula usada como lavanderia e aposentos dos empregados".

Edícula, propriamente, é exagero. A propriedade, de seis pavimentos e 48 dormitórios, está localizada em uma das áreas mais cobiçadas por empresas e grupos empresariais, mas, como imóvel tombado, há uma série de restrições para o uso, pois uma simples alteração necessita de análise e aprovação do Condepasa, o que, segundo o empresário, cria obstáculos para a locação. "Para instalar um simples aparelho de ar-condicionado é preciso enviar um projeto para o Condepasa", protesta Armando. A presidente do órgão, Eliane Elias Mateus, confirma esta exigência, mas depende do caso. "Se for na parte externa, com risco de descaracterizar a fachada, é preciso".

Pendenga judicial - A briga judicial entre Armando Lopes e a Prefeitura de Santos vem se arrastando há anos e já rendeu caixas e caixas de documentos. A Prefeitura está executando uma dívida de mais de R$ 1 milhão de IPTU atrasado, negociada com o empresário, que vem pagando parcela mensal superior a R$ 7 mil.  Armando, por sua vez, informa ter ganho ação de ressarcimento pelo tombamento no valor de R$ 4 milhões, valor estimado com base em hipotético aluguel que o proprietário deixou de ganhar em todos esses anos. "Hoje, estaria em torno de R$ 150 mil mensais. Esta ação está em vias de ser executada, pois não cabe mais recurso à Prefeitura". Ele também acionou a Prefeitura, responsabilizando-a pelo tempo de abandono do imóvel.

A dívida de mais de R$ 1 milhão corresponde à cobrança de IPTU nos dois primeiros anos seguintes ao tombamento. Depois disso, o imóvel recebeu isenção fiscal, mas o imposto voltou a ser cobrado este ano por falta de manutenção. Armando justifica: durante anos uma área pertencente à propriedade, na rua Carlos Afonseca, foi alugada para estacionamento e o locatário entrou com pedido de usucapião, sendo concedida liminar judicial. Como consequência, em 2008 o empresário ficou por dez meses impedido de entrar em sua propriedade, obtendo a reintegração da posse somente no início deste ano.  "Fiz uma reforma geral, hidráulica, elétrica, até com intenção de dar um aproveitamento ao lugar. Depredaram e saquearam tudo, roubaram até a calha. Agora, a Prefeitura alega falta de manutenção para voltar a cobrar IPTU".

Armando conta que havia um projeto de transformar o edificio em uma extensão do shopping, ampliando com lojas, flats, restaurantes, mas acabou deixando de lado devido às dificuldades impostas. "É uma aberração esse tombamento. O prédio nunca foi utilizado como bem cultural da cidade. Tentei ate que fosse ocupado pelo Museu Pele, mas não quiseram". Eliane Mateus contesta: "não é verdade, não há nenhum impedimento para o uso do imóvel. Ele (Armando) apresentou uma proposta de reforma e depois mais nada". A presidente do Condepasa notificou o empresário por falta de manutenção do prédio e diz ter comunicado ao Ministério Público. Enquanto a pendenga se arrasta com novas apelações e recursos, a cidade vai assistindo à lenta deterioração (telhado quebrado, portas arrebentadas, calhas e quase toda a fiação elétrica retiradas e por ai vai) de um belo prédio em um dos pontos mais valorizados de Santos.

O bairro das galerias
A inspiração veio de Paris, onde no século XIX surgiram as galerias, tendência que se espalhou pelo mundo, modificando as relações entre público e privado no espaço urbano das cidades. Ao contrario dos centros de compras fechados, são espaços sem barreiras tão definidas, mais acessíveis ao público que garimpa algo para comprar ou apenas as utiliza como passagem para cruzar as quadras. Um modelo de conjunto comercial mais tarde copiado e aperfeiçoado pelos shoppings  centers.

Em São Paulo as galerias comerciais surgiram no século passado, tendo como base a ideia francesa e com a intenção de compensar a falta de espaço e aumentar as áreas rentáveis dos prédios residenciais. Com seus usos destinados ao comércio e serviços, muitas delas acabaram por se especializar em algum tipo de produto e ultrapassaram o teto do andar térreo dos edificios, ganhando novos pavimentos.

Em Santos, a novidade chegou na década de 60, quando a área central era o grande polo comercial da cidade. A primeira foi a Ipiranga, inaugurada em 1964 no térreo de três edifícios geminados: D. Pedro I, D. Pedro II e Jose Bonifácio. A cidade não possuía shopping ainda e logo a galeria virou o point do Gonzaga. "Na época era como um mini shopping", diz Teresa Losada, há 31 anos estabelecida na galeria com uma loja de bolsas e acessórios.

O sucesso foi tanto que logo surgiram outras, também no Gonzaga, que ganhou a característica de bairro das galerias. São cinco em torno ou próximas da praça Independência: Ipiranga, Queiroz Ferreira, Campos Elíseos, 5ª Avenida e Brasil (da rua Floriano Peixoto à rua Marechal Deodoro), além da A.D. Moreira, que liga a rua Floriano Peixoto à avenida Presidente Wilson, na praia. E há até o que parece, mas não é, como o caso do Centro Comercial Nova Azevedo Sodré, que liga a avenida Ana Costa com a rua Bahia.

Esses corredores comerciais que reúnem centenas de lojas com produtos e serviços diversificados contribuíram na transformação do Gonzaga em polo comercial e turístico. E os comerciantes não reclamam: "Apesar de termos também lojas em dois shoppings, nosso ponto forte é a galeria. Aqui temos freguesia tradicional", afirma André Nicola, da Alex Calcados, atualmente com quatro lojas na Galeria Ipiranga, onde a marca esta há 40 anos.

Fonte: Jornal da Orla

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