A onda de crescimento econômico tem seu lado negativo: Santos está cada vez mais barulhenta. O número de reclamações ocasionadas por excesso de ruídos quase quequadruplicou em menos de quatro anos. De janeiro a junho de 2011, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Seman) registrou 597 relatos de barulho em excesso.

Nos 12 meses de 2008, este número era 152. Um ano depois, as queixas saltaram para 215. Só nos seis primeiros meses de 2011 foram registradas quase o dobro de todo o ano passado. Entre janeiro e dezembro de 2010, ocorreram 302 relatos de barulho excessivo. "A demanda realmente extrapolou o que esperávamos", diz o chefe da Seção de Fiscalização Ambiental da Seman, Carlos Américo de Bulhões Brasílico.
 

Ruídos gerados com novos empreendimentos imobiliários em construção, bares e casas noturnas lideram o ranking das queixas. "A Ponta da Praia que era um bairro mais tranquilo, agora tem cinco ou seis bares funcionando diariamente", frisa Brasílico. Do total de queixas, apenas 64 resultaram em multas a estabelecimentos. Todos, segundo a Seman, passaram a ter isolamento acústico ou adequaram o já existente.

A pasta dispõe de apenas dois decibelímetros (aparelho para medir o volume do som) a fim de atender toda a Cidade. A fiscalização de pontos barulhentos conta também com o apoio da Polícia Militar, que repassa ocorrências de estabelecimentos à Seman. No primeiros semestre deste ano, a corporação santista recebeu 1.100 chamados de perturbação de sossego.

Bar do lado de casa

Com base nos relatos é possível traçar eventuais mudanças de comportamento dos santistas e de perfis dos bairros. "Até mesmo no inverno realizamos vistoria. Fato que no passado não ocorria", comenta. Gonzaga e Embaré são os bairros que mais registram queixas. Estes são, justamente, os pontos onde há a maior concentração de bares. "Quando não é música ao vivo, é o jogo televisionado", diz Brasílico.

Sem áreas para a expansão da Cidade, ruas até então residenciais passaram a receber comércios e prestadores de serviços. Morar próximo a uma casa noturna, um bar, ou em vias que têm feira, por exemplo, exige paciência e pode até comprometer a saúde.

A concentração deste tipo de estabelecimento comercial na Rua Azevedo Sodré tem tirado o sono de vizinhos. "De quinta a domingo, o barulho é intenso, mesmo depois da meia noite", diz a pensionista Sônia Aparecida Augusto, que reside próximo à via. "Estou cansada de ligar para a polícia e a bagunça continuar", completa. O porteiro de um condomínio próximo, Carlos Alberto Silveira, diz ter perdido as contas de reclamações dos moradores. "É um vai-e-vem de pessoas e carros. Não para a noite toda", diz.

Já os comerciantes afirmam evitar a todo custo abusos provocados por frequentadores. "Nossa política sempre foi de convívio pacífico com os vizinhos", diz o dono de uma choperia da via, que preferiu não se identificar. "Depois das 11 horas pedimos àqueles mais ruidosos para diminuir um pouco", completa. Entretanto, moradores de outros corredores viários também padecem com o excesso de barulho. São os casos da ruas Tolentino Filgueiras e da Marechal Deodoro; e trechos das avenidas Afonso Pena e Conselheiro Nébias.

Porta ao lado

Porém, há casos em que o morador da porta ao lado é responsável pelo ruído. "Os síndicos são orientados a aplicar as regras do regulamento dos prédioschr39, explica o presidente do Sindicato dos Condomínios (Sicon), Rubens Moscatelli.

No entanto, ele cita a necessidade de modernizar os regulamentos internos. "As sanções são antigas e não há um padrão. Pode ser de um a até sete vezes o valor do condomínio", diz. "Porém, é recomendado resolver o problema na base da conversa".



A 3a causa de poluição no planeta

O volume exagerado da vibração que se prolonga pelo ar pode trazer riscos à saúde. Pesquisas médicas são claras ao apontar que o ouvido humano perde cada vez mais a sensibilidade.

O barulho é, na atualidade, a terceira causa de poluição do planeta, depois do ar e da água. Conforme explica o otorrinolaringologista Arthur Menino Castilho, a exposição a fortes ruídos provoca, a curto prazo, sensação de audição abafada, zumbido e intolerância para sons. “Este tipo de barulho causa irritação e nervosismo a quem está exposto”, diz.

Os sintomas são sinais de eventuais alterações perigosas e até irreversíveis no canal auditivo. Ele esclarece que são mais sensíveis à eventual perda de audição trabalhadores expostos a ambientes barulhento. “Ruídos como o provocado em bar, por exemplo, não deixam ninguém surdo”, frisa.

Por outro lado, ele afirma que exposição constante a barulhos externos pode provocar perda temporária da sensibilidade auditiva. “Ocorre depois de um tempo de exposição, mas o efeito é mais psicológico. A pessoa sente como se perdesse a audição, o que não ocorre”.

Em efeito cadeia, continua o especialista, a tendência é aumentar ainda mais o volume da TV ou agitar-se na cama, em busca de uma posição mais confortável ao sono. “Isso vai provocando uma crescente irritação”.


NOITES EM CLARO

Além da agonia e danos à audição, o barulho prolongado pode prejudicar ainda o descanso. “Os ruídos têm impacto direto na hora de dormir. Além de impedir, ainda fragmenta as horas de sono”, argumenta a pesquisadora do Instituto do Sono, Sônia Togeiro.

A especialista destaca que a perda do sono provoca fadiga, cansaço, além da perda de atenção e de memória. “O horário do sono precisa ser seriamente respeitado”, afirma.

Noites em claro, afirma a pesquisadora, têm reflexos no estado de atenção. “O que pode acarretar até em acidentes de trânsito ou no trabalho”, completa.

Estudos ainda relacionam noites de insônia ao aumento da probabilidade de morte prematuras, além de maiores incidências de doenças cardiovasculares e de derrames.

No País, normas elaboradas pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia regulam o tempo de exposições. Sem nenhum desconforto, o ouvido humano tolera até 80 decibéis (dB) - unidade de medida para a pressão do som. Ruídos superiores a 85 decibéis (dB) começam a provocar danos irreversíveis à audição. Contudo, a partir dos 65dB o organismo está sujeito a um estresse gradativo.


Feiras livres não ficam livres das críticas

Há mais de 25 anos, o arquiteto Daniel Proença convive semanalmente com um vizinho barulhento: a feira livre. “Nestas madrugadas, passamos por um drama. Problemas não faltam”, desabafa.

Ele cita que o excesso de ruídos tem início a partir das 3 horas. “Primeiro vem os caminhões. Depois, descarregam os produtos numa algazarra. É falatório, gritaria. Sem contar a martelada para armar a barraca”, exemplifica. “Tudo isso, antes das 5 horas”, completa.

Terminada a tarefa a fim de armar as barracas da feira, iniciam- se os já tradicionais gritos de anúncios dos produtos. “Isto ocorre a manhã inteira. Todas as quintas-feiras”.

Via de uma das mais antigas e tradicionais feiras da Cidade, a Avenida Pedro Lessa retorna a calmaria somente à tarde.

“A gente tem que se adaptar aos horários da feira, como uma espécie de seleção natural”.

No entanto, o diretor jurídico do Sindicato dos Feirantes de Santos e região, Luiz Carlos Guida Santos, afirma que o número deste tipo de reclamação caiu nos últimos 36 meses. “Eram mais de 300 (queixas) há três anos; hoje, não passam de 10”, informa.

CAIU
O sindicalista argumenta ainda que a intensificação das ações da Seman e aplicação de multas aos infratores explicam o menor volume de queixas. “Tomamos cuidados, pois o morador (próximo às feiras) é nosso cliente. Também conversamos com os feirantes para evitar problemas”.

O amplo conhecimento do Código de Postura da Cidade tambémauxiliou no bom convívio entre feirantes e residentes. “Descarregar (os produtos) tem início depois das 4h30 em dias de semana; 4h, no sábado e domingo. Martelar, também, não pode mais”, explica.

Fonte e imagens: Jornal Atribuna 01/08/2011

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