EDUARDO BRANDÃO
DA REDAÇÃO

O cheiro de feijão queimado a se espalhar pelo corredor do condomínio, em Santos, indicava que algo grave ocorrera. Insistentemente, o grupo que se reúne em frente ao apartamento toca a campainha, mas ninguém atende. Única solução apontada é arrombar a porta, que cede após certa dificuldade. Sentada no chão do banheiro, sem vida, encontrava-se uma senhora de 77 anos, acometida por ataque cardíaco súbito.

Sem parentes de primeiro grau por perto, foram os vizinhos que sentiram a falta da mulher, que cumpria compromissos regulares seguindo  uma certa rotina. A cena ocorrida num condomínio  próximo à praia do José Menino poderia retratar mais  um caso de enfarto. O histórico médico dessa senhora indica o chamado grupode risco à doença cardiovascular, a patologia que mais registra casos de mortes no País.

No entanto, detalhes chamam a atenção à gravidade do fato: a senhora era a síndica do edifício e, no dia anterior, teve uma ríspida discussão com outro morador do prédio. Acalorados debates em condomínio não são tão raros. As acusações e a gritaria tornam-se mútuas, à medida em que a desinteligência sobe o tom. Desta forma, surge a dúvida: a responsabilidade em gerenciar um edifício deve ser aceita por aqueles que têm problemas de saúde?

A avaliação de especialistas é o enfático não. Ser síndico implica em responsabilidades e elevado nível de estresse. O ideal é que o candidato faça uma autoavaliação para saber se tem condições de saúde compatíveis com a atividade.

No caso citado, a senhora não demonstrava condições físicas para exercer a atividade, conforme avaliam especialistas. Além da idade, ela sofria de diabetes, hipertensão e labirintite. Apesar do óbito ter ocorrido depois de uma discussão, a carga de estresse pode ser uma das causas que teriam levado ao enfarto.

ESTRESSE
“O estresse é um dos fatores de risco cardiovascular”, resume o cardiologista Carlos Alberto Cyrillo Sellera. Contudo, outros pontos também podem contribuir para o enfarto, como  o sedentarismo, alimentação  inadequada e a idade.

“Não apenas no trabalho,  mas uma discussão em casa, ou sobre futebol, também podem provocar o enfarto”, acrescenta Sellera. Ele aconselha aqueles com históricos da enfermidade na família ou com doenças que aumentam as chances de um ataque cardíaco que evitem atividades estressantes.

DIFICULDADE
Essas e outras dificuldades afastam cada vez mais os poucos pretendentes ao cargo de síndico. “Há implicações legais pelas quais o síndico poderá responder por situações de omissão”, diz o presidente do Sindicato dos Condomínios Prediais do Litoral Paulista (Sincon), Rubens Moscatelli.

Ele aponta as mudanças da vida moderna como um dos motivos da falta de interesse do morador pelas atribuições no condomínio. “Quando chega em casa, a maioria não quer aborrecimentos”, analisa. Justamente por essa razão, as reuniões entre os condôminos estão cada vez mais esvaziadas. “O ideal é o comprometimento de todos os moradores para o bom gerenciamento do condomínio”.


Uma saída: Os síndicos profissionais

Seja pelo ritmo da vida moderna ou por fugir de eventuais dores de cabeça, é cada vez mais comum terceirizar a tarefa de gerenciar um condomínio. E isso abre o campo a mais uma atividade: o síndico profissional. Moisés dos Santos Abreu é uma destas pessoas, cuja necessidade empurrou à função.

Ele gerencia cinco edifícios na Cidade. “Há um prédio no qual já realizamos duas assembleias para indicar um síndico e nenhum morador se candidatou”. Por conta das dificuldades, encontrar um síndico que não resida no condomínio pode ser a solução. “Não é uma tarefa fácil, temos que ter jogo de cintura e trabalhar bastante”, diz. Ele realiza duas vistorias diárias em cada um dos edifícios sob sua tutela.

“O risco é de não se tornar um ditador, a ponto de só sua vontade ser feita; ou conivente, por fazer tudo que se deseja mesmo sem verba para isso”, acrescenta. Entretanto, o presidente da Sicon, Rubens Moscatelli afirma que delegar essa tarefa a terceiro não é a única ação a fim de resolver as pendências nos edifícios. “Sem a participação dos moradores, nada muda”, pontua Moscatelli.

Fonte: Jornal ATribuna
Data: 07/07/2012
Caderno: Local A-7
Imagens: Jornal ATribuna
 

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